As 9 principais doenças do feijão!

As 9 principais doenças do feijão!

O diagnóstico das principais doenças do feijão é indispensável para realizar um manejo integrado de doenças efetivo. Em 2020/21, a produção desse grão alcançou pouco mais de 3 mil toneladas, um número que, embora considerável, pode ser menos expressivo em comparação com outras produções de grãos no Brasil. No entanto, isso não a faz menos importante, pois o feijão continua sendo uma das culturas mais relevantes no país.

Atualmente, o feijão é um alimento fundamental na composição da dieta de praticamente todos os brasileiros. Além disso, ele é um aliado muito importante em questões relacionadas à segurança alimentar no Brasil. Isso se deve não apenas à sua importância nutricional, mas também à sua capacidade de ser cultivado durante o ano todo, em diversas regiões do país.

Portanto, é essencial entender a relevância do feijão na segurança alimentar e os desafios enfrentados pela cultura, para que os manejos fitossanitários sejam cada vez mais eficientes. Com isso, será possível assegurar a continuidade de sua produção e, consequentemente, sua presença na alimentação dos brasileiros.

 

As 9 principais doenças do feijão!

 

Dentro desse contexto, as doenças que afetam o feijoeiro podem apresentar um papel de destaque, pois podem fazer toda a produção, em quantidade e qualidade, ir por água abaixo.

Tais doenças podem ser causas por agentes fitopatogênicos de diferentes naturezas como fungos, bactérias e vírus.

Assim, confira a lista de 9 doenças do feijão que será abordada nesse artigo:

  1. Podridão radicular de Rhizoctonia;
  2. Murcha de fusarium;
  3. Mancha angular;
  4. Ferrugem;
  5. Oídio;
  6. Mofo-branco;
  7. Antracnose;
  8. Crestamento bacteriano comum;
  9. Mosaico dourado do feijoeiro.

 

É importante se atentar

Como se pode imaginar, cada um desses patossistemas vai apresentar suas particularidades, assim como pontos em comum.

Relembrar, saber e refletir sobre tais características é fundamental na realização um bom planejamento de manejo integrado de doenças do feijão.

Se você deseja saber ou revisaros aspectos básicos da produção de feijão. Como seus estádios fenológicos, as diferentes épocas e safras de plantio. Recomendo a leitura do seguinte texto: Plantação de Feijão: Cuidados na hora de Semear!

Podendo se tornar mais fácil de relacionar informações como:em qual safra o feijão tem mais chances de ser afetado por uma doença. Ou em qual estádio fenológico se observamais sintomas dessa doença.

Mas para saber um pouco mais sobre as principais doenças do feijão, o que é a ferrugem feijão, como manejar a antracnose no feijão, junto as outras doenças listadas, não deixe de conferir esse artigo.

 

Pós-graduação Fitossanidade

 

Podridão radicular de Rhizoctonia (Rhizoctonia solani)

A podridão radicular de Rhizoctonia é uma doença que pode causar severos danos a cultura do feijão, afetando principalmente os estádios fenológicos inicias do feijoeiro (V0 a V4).

O agente causal dessa doença é o fungo de solo Rhizoctonia solani. Causando o típico sintoma de damping-off” devido ao estrangulamento do colo de plantas jovens de feijão. Resultando no tombamento do ápice da planta.

Outro sintoma característico é a ocorrência de lesões arredondadas, irregulares, deprimidas, apresentando tons amarronzados a avermelhados.

Esse fungo pode sobreviver em restos de culturas e no solo, com a formação de estruturas conhecidas como escleródios.

Sua dispersão pode ocorrer através da água da chuva ou irrigação, implementos de máquinas com solo contaminado ou até mesmo sementescontaminadas.

Os danos causados nos estágios inicias levam a má formação de estande e perda de produtividade. Contudo também pode afetar as vagens que tiverem contanto com o solo. Causando danos qualitativos aos grãos de feijão.

A presença desse fungo em uma área de feijão pode ser tão problemática. Que até mesmo sua fase perfeita (Thanatephorus cucumeris) pode causar danos, doença conhecida como Mela.

 

Cultura do Feijão: importância, tipos, fenologia e seus principais manejos.

 

Murcha de fusarium (Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli)

A murcha de Fusarium também é uma doença fúngica veiculada pelo solo, de grande importância para a cultura do feijão. Embora possa ocorrer nas fases iniciais do feijoeiro, sua incidência mais preocupante ocorre nos estádios de pré-floração, florescimento e enchimento das vagens, quando os danos podem ser mais intensos e comprometer a produtividade da lavoura.

A severidade dessa doença está fortemente atrelada a fatores como o grau de resistência da cultivar utilizada, bem como às propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Nesse contexto, é essencial considerar a qualidade do solo para minimizar os impactos da doença. O agente causal é o fungo Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli, onde a abreviação “f. sp.” significa “forma specialis”, indicando que se trata de uma forma de Fusarium que ataca especificamente o feijão.

Os sintomas causados por essa doença são característicos e incluem amarelecimento e murcha generalizada ou parcial da parte aérea do feijão. Isso ocorre devido ao fato de o fungo colonizar os vasos do xilema da planta, impedindo a passagem adequada de água e nutrientes. Como resultado, as plantas apresentam sintomas de murcha nos períodos mais quentes do dia. Contudo, ao entardecer, elas podem retornar à turgidez. Quando a murcha se torna irreversível, ocorre a desfolha da planta e, eventualmente, a morte da mesma.

O Fusarium oxysporum sobrevive também em restos culturais e no solo, por meio da formação de estruturas de resistência chamadas clamidósporos (enovelamento de hifas). Dessa forma, a dispersão da doença ocorre de maneira semelhante à de outras doenças fúngicas, por meio da água de irrigação, respingos de chuva e até por meio do contato com o solo contaminado. Dada a sua capacidade de sobrevivência no solo, é fundamental implementar estratégias de manejo integrado de doenças para evitar a propagação e os danos da murcha de Fusarium.

Mancha angular (Phaeoisariopsis griseola)

Já a doença do feijão popularmente conhecida como mancha angular pode causar lesões em todos os órgãos da planta, mas principalmente nas folhas.

O fungo que causa essa doença é oPhaeoisariopsis griseolaapresentando ocorrência global em mais de 60 países com mais de 29 raças.

Nas folhas pode se observar na parte inferior dos folíolos pequenas lesões angulares. De coloração marrom acinzentada e delimitadas pelas nervuras.

Evoluindo para uma coloração marrom escuracomcoalescimento das lesões, posterior amarelecimento e queda, resultando em desfolhamento precoce da planta de feijão.

 

Ferrugem (Uromyces appendiculatus)

As doenças comumente chamadas de ferrugem afetam uma série de outras culturas, como a soja e o café. No entanto, essas doenças são causadas por patógenos fúngicos específicos que, no caso do feijão e de outras plantas do gênero Phaseolus spp., é o fungo Uromyces appendiculatus.

Esse patógeno, ao contrário das demais doenças comentadas até aqui, apresenta natureza biotrófica. Isso significa que ele necessita da presença de um hospedeiro vivo para se manter presente e reproduzir, o que também garante a essa doença uma grande variabilidade. Esse fator de variabilidade torna o controle mais desafiador, especialmente em regiões do Brasil onde é possível cultivar feijão durante o ano todo, aumentando a exposição das plantas ao patógeno.

O sintoma típico dessa doença caracteriza-se pela presença de estruturas nas folhas chamadas de pústulas. Inicialmente, essas pústulas surgem como pequenas manchas amarelo-esbranquiçadas na parte inferior da folha, evoluindo para ambos os lados com manchas de cor marrom-alaranjadas e geralmente com um halo clorótico. Com o aumento da quantidade de pústulas, a folha apresenta clorose generalizada, secando e caindo prematuramente, o que compromete a produtividade da planta.

As pústulas são as estruturas responsáveis pela produção dos esporos, que são disseminados principalmente pelo vento. Dessa forma, a propagação da doença pode ocorrer rapidamente em áreas de cultivo com grande intensidade de vento, o que torna o controle ainda mais desafiador. Portanto, é essencial realizar monitoramentos frequentes e adotar práticas de manejo integrado para minimizar os danos causados pela ferrugem do feijão.

Oídio (Erysiphe polygoni)

A doença de oídio na cultura do feijão apresenta caráter “secundário”, ocorrendo sob condições de temperatura moderada e baixa umidade, o que é comum em cultivos tardios. Esse fator torna o controle mais desafiador, especialmente quando as condições ambientais favorecem o patógeno.

O agente causador dessa doença é o fungo Erysiphe polygoni, o qual pode afetar toda a parte aérea da planta, sendo as folhas o órgão mais impactado. Dessa forma, as folhas tornam-se os principais locais onde os sintomas são observados.

Os sintomas típicos da doença se caracterizam pela ocorrência de pequenas manchas verde-escuras na parte inferior das folhas, que gradualmente se desenvolvem para pequenas massas brancas acinzentadas, com aparência de pó. Esse pó é, na verdade, a esporulação do fungo, o que torna o diagnóstico visual mais evidente.

Em situações de infecções mais severas, a folha pode ficar completamente coberta por um aspecto pulverulento, evoluindo para o amarelecimento e a desfolha prematura da planta. Esse processo afeta diretamente a produtividade, reduzindo a capacidade fotossintética das plantas.

Além disso, o patógeno Erysiphe polygoni apresenta diversas raças fisiológicas e um grande número de hospedeiros, fatores que se tornam essenciais para a manutenção do fungo, mesmo na ausência do feijoeiro. Seus esporos podem ser disseminados pelo vento, pela chuva ou por insetos, o que facilita a propagação da doença entre as lavouras. Portanto, a observação constante e o controle integrado se tornam cruciais para minimizar os impactos dessa doença.

Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)

O mofo-branco é uma das principais doenças fúngicas do feijoeiro e ocorrenos cultivos de feijão do mundo todo.

É uma doença que ocorre principalmente a partir do florescimento, além de ser importante em áreas de cultivo inverno.

Que somado a prática de irrigação por aspersão, podendo chegar acusar perdas de até 100% da produção do feijão.

Essa doença é causada pelo fungode solo Sclerotinia sclerotiorum o qual é um patógenocom mais de 300 espécies de plantas hospedeiras, muitas delas de interesse agrícola como a soja.

Os sintomas típicos dessa doença são o apodrecimento de hastes, folhas e vagens junto ao crescimento de uma massa micélio branco, o mofo.

As lesões que se desenvolvem secam, apresentando cor de palha e a formação de estruturas de resistência (escleródios).

Os escleródios são essenciais pois garante a manutenção da viabilidade do fungo, por mais de oito anos. Até que se tenha plantas hospedeiras e condições climáticasfavoráveis para o desenvolvimento do fungo e da doença.

 

Antracnose (Colletotrichum lindemuthianum)

A antracnose é uma doença que ocorre nos principais estados produtores de feijão e, por isso, é considerada uma das doenças mais importantes dessa cultura. Isso se deve à sua capacidade de causar a perda total da produção, especialmente em regiões com temperatura baixa a moderada e alta umidade relativa.

O fungo responsável por essa doença é o Colletotrichum lindemuthianum, o qual apresenta alta variabilidade genética, com mais de 32 raças patogênicas identificadas até o momento. Dessa forma, a diversidade genética do patógeno torna o controle ainda mais desafiador.

Os sintomas típicos da antracnose envolvem as nervuras da superfície inferior dos folíolos, que apresentam lesões alongadas, inicialmente de cor avermelhada, seguidas de necrose. Além disso, as vagens infectadas apresentam lesões circulares e deprimidas de tamanho variável, com coloração marrom e bordos escuros e salientes, acompanhados de um halo pardo-avermelhado.

Essas lesões podem coalescer, cobrindo parcialmente as vagens. Sob condições favoráveis, elas podem apresentar o centro das lesões com coloração mais clara ou rosada, indicando a esporulação do fungo. Portanto, é importante observar esses sinais para realizar o controle eficaz da doença.

O fungo causador da antracnose pode sobreviver e ser disseminado através de restos de cultura, sementes, respingos de chuva, irrigação e insetos. Consequentemente, a prevenção e o manejo integrado de doenças são essenciais para minimizar os danos e evitar a propagação do patógeno.

Crestamento bacteriano comum (Xanthomonas axonopodis pv.phaseoli)

O crestamento bacteriano comum, diferente de todas as doenças que vimos até aqui, é causado por um patógeno bacteriano.Essa doença é de importância considerável na cultura do feijoeiro devido à redução significativa da produção e às dificuldades de controlar a doença.

Além disso, ela é amplamente disseminada e comum em todas as regiões produtoras de feijão ao redor do mundo, especialmente em regiões com clima quente e úmido.Isso tem uma relação direta com os maiores danos causados ao feijão quando semeado na época das águas.

Os sintomas dessa doença são caracterizados por pequenas manchas verde-escuro, encharcadas e oleosas.Com o avanço da doença, as lesões aumentam de tamanho e apresentam uma coloração marrom a necrótica, acompanhada por um halo clorótico.

Nos estágios mais severos da doença, as lesões se coalescem, o que leva à desfolha do feijão.O agente causal do crestamento bacteriano comum do feijoeiro é a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli.

Ela pode sobreviver na semente, em restos de cultura, no solo e em plantas hospedeiras alternativas.Exemplos de plantas daninhas, como Amaranthus spp. e a tiririca (Cyperus rotundus), bem como outras Fabaceae, podem servir de hospedeiras para a bactéria.

A disseminação da doença no campo ocorre por sementes contaminadas, insetos, água da chuva e irrigação por aspersão.

Mosaico dourado do feijoeiro (BGMV)

O mosaico dourado do feijão é considerado a virose mais importante da cultura do feijoeiro e está presente na maioria das regiões produtoras do Brasil. Essa doença pode gerar danos tão severos que compromete até 100% da produção da planta, dependendo do cultivar e do estádio de desenvolvimento da planta de feijão.

O agente causador dessa doença é o vírus denominado Bean golden mosaic virus (BGMV). Assim como outras doenças causadas por vírus, o BGMV precisa de um vetor para ser introduzido e disseminado pela lavoura de feijão.

Neste caso, a mosca branca (Bemisia tabaci) é o vetor responsável pela disseminação do vírus. Além disso, as populações do vetor, os hospedeiros alternativos do vírus e as condições climáticas favoráveis também são elementos fundamentais para a severidade da doença.

Vale ressaltar que temperaturas elevadas e baixa umidade são condições ideais para a maior incidência dessa doença, uma vez que o aumento da população da mosca branca favorece a disseminação do vírus. Plantas jovens de feijão apresentam folíolos com aspecto encarquilhado ou curvados para baixo, seguidos de clareamento e clorose leve nas nervuras.

O aspecto de mosaico ocorre após o desenvolvimento das folhas, quando os espaços entre as áreas cloróticas próximas à nervura aumentam. Outros sintomas incluem vagens deformadas, plantas com nanismo, perda da dominância apical, brotamento das gemas axilares e retardamento da senescência foliar.

Esses sintomas são causados pela bagunça metabólica e hormonal provocada pelo vírus durante seus processos de multiplicação dentro da planta de feijão.

Manejo integrado das doenças do feijão

O manejo integrado de doenças (MID) faz uso de diversas ferramentas de controle, visando a forma mais racional possível. Dessa forma, esse tipo de manejo combina diferentes estratégias, como controle físico, cultural, genético, biológico e químico.

O primeiro passo para implementar o MID é, justamente, a diagnose dos sintomas das doenças. Nesse sentido, algumas doenças podem ser mais facilmente identificadas, seja devido à experiência de quem realiza a diagnose, seja por características bem definidas da própria doença.

Contudo, independentemente da facilidade de identificação, é crucial realizar uma inspeção rotineira nas áreas de cultivo de feijão. Além disso, essa prática assegura que o produtor consiga agir de forma preventiva, minimizando os danos e garantindo uma maior produtividade na lavoura.

 

E o que fica de mais importante?

Como você pode perceber muitas das doenças aqui abordadas podem sobreviver e serem transmitida via a semente de feijão.

Assim, uma medida de manejo essencial para se evitar e introdução de doenças na área é a utilização de sementes de boa qualidade fisiológica e sanitária.

Pois uma boa taxa de germinação, junto a uma profundidade adequada de semeadura evita com que a plântula de feijão permaneça muito tempo exporta a infecção de patógenos que sobrevivem no solo.

Outra técnica de manejo recomentada para diminuir a fonte de inóculo de doenças que sobrevivem no solo. Ou em restos de culturais ou que precisam de um hospedeiro vivo é a rotação de cultura.

Sendo importante também o manejo de espécies espontâneas que possam estar presentes nas áreas de cultivo de feijão.

 

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A presença de palha no sistema de cultivo pode evitar a disseminação de doenças ou a infecção das vagens, pois elas não ficam em contato direto com o solo.

Outro fator muito importante e essencial para o manejo de doenças é a escolha adequada do material genético de feijão.

Assim, você pode adquirir uma cultivar de feijão resistente a uma doença que está dificultando o cultivo. Além disso, você pode manejar a época de semeadura de forma a torná-la menos favorável para o desenvolvimento da doença.

Por fim, o objetivo aqui é mostrar que, quanto mais pontos relacionados ao manejo do feijão forem pensados previamente, maior será a efetividade do seu plano de manejo integrado de doenças.

Conclusão

Espero que este artigo tenha ajudado você a aprender mais sobre algumas das principais doenças que afetam a cultura do feijão.

Além disso, você compreendeu a importância de realizar um bom diagnóstico de doenças nas áreas de cultivo de feijão e como ele se relaciona com um bom manejo integrado de doenças.

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Escrito por João Verzutti.

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