A inoculaçao é uma técnica que contém microrganismos como bactérias e fungos com ação benéfica para as plantas. O uso de inoculantes é prática comum na cultura da soja no Brasil, mas essa não é a única cultura que pode se beneficiar. A aplicação desses insumos biológicos pode suprir total ou parcialmente as necessidades de nitrogênio das culturas. Aprenda sobre essa técnica neste artigo.
O que é inoculação ou inoculante?
O inoculante é um insumo biológico que contém microrganismos como bactérias e fungos com ação benéfica para as plantas.
Os microrganismos mais utilizados são as bactérias fixadoras do Nitrogênio, um dos macronutrientes fundamentais para o desenvolvimento as plantas.
Boa parte do nitrogênio fixado em ambientes terrestres resulta da interação simbiótica entre bactérias e plantas.
Essas bactérias formam nódulos nas raízes da planta, em uma relação simbiótica essencial para o seu crescimento e desenvolvimento.
As bactérias assimilam o nitrogênio atmosférico e o convertem a uma forma que as plantas podem absorver, enquanto utilizam carbono fixado pela fotossíntese das plantas.
Os produtores alcançam os benefícios agrícolas quando utilizam estirpes recomendadas, obtidas das bactérias mais eficientes na fixação de nitrogênio para cada cultura.
Em associação com as plantas leguminosas, como feijão e soja, encontramos as bactérias dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, utilizadas na produção de inoculantes.
No setor agrícola brasileiro, cerca de 80% do inoculante é a base de Bradyrhizobium sp., 10% à base de Azospirillum sp.
Menos de 10% corresponde a todas as outras espécies e cepas disponíveis, como Sinorhizobium sp., Mesorhizobium sp. Rhizobium sp. e Nitrospirillum amazonense.
Embora encontremos esses microrganismos na natureza, os produtores devem registrar os inoculantes comerciais no Ministério da Agricultura, e a produção segue normas e protocolos específicos.
A entidade responsável pelo estabelecimento das normas e protocolos, portanto, é a Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola (RELARE).
Além disso, a RELARE fundou-se em 1985 e, desde então, traçou as políticas fundamentais para a Fixação Biológica do Nitrogênio, tanto em seus aspectos científicos, elaborando protocolos de pesquisa e ensaios em rede, quanto nas sugestões técnicas para a legislação de inoculantes no Brasil.
Quais microrganismos podem ser usados como inoculantes?
A seleção dos microrganismos com potencial para uso como inoculante, portanto, normalmente é realizada em laboratórios de institutos de pesquisa e universidades.
Nesse processo, os cientistas estudam e selecionam diversas espécies de bactérias diazotróficas, fixadoras de nitrogênio, que podem ser usadas para produzir inoculantes para plantas de importância agrícola e florestal.
Com base nesses estudos, elaboram-se relatórios técnicos, a fim de recomendar e registrar as cepas junto ao Ministério da Agricultura (MAPA).
Além disso, todos os testes necessários para averiguar a eficiência dos inoculantes constam em Instruções Normativas do MAPA, garantindo a qualidade e segurança do produto.
Para que uma empresa possa produzir um inoculante comercial, ele deve obter uma cepa registrada e recomendada a partir de um banco de germoplasma homologado.
No Brasil, há uma lista de microrganismos e cepas registrados no MAPA e autorizados para produção de inoculantes para cada cultura.
Essa lista é parte da Instrução Normativa SDA nº 13 (2011), atualizada periodicamente de acordo com os avanços da pesquisa científica e registro de novos microrganismos.
Abaixo temos 9 espécies autorizadas para uso como inoculantes, veja:
- Soja – Bradyrhizobium japonicum e B. elkanii
- Grão de bico – Mesorhizobium ciceri
- Lentilha e Ervilha – Rhizobium leguminosarum bv viciae
- Feijão comum (Phaseolus vulgaris) – Rhizobium tropici
- Feijão de corda, feijão miudo, caupi (Vigna unguiculata) – Bradyrhizobium sp.
- Amendoim forrageiro (Arachis pintoi) – Bradyrhizobium japonicum
- Guandu (Cajanus cajan) – Bradyrhizobium sp.
- Acácia (Acacia angustissima, Acacia auriculiformis) – Mesorhizobium amorphae
- Milho (Zea mays), Trigo (Triticum spp.) e arroz (Oriza sativa) – Azospirillum brasiliense
Benefícios proporcionados pelos inoculantes
O uso de inoculantes frequentemente está associado a:
- melhoria na resistência aos estresses ambientais
- maior eficiência na absorção de água e de outros nutrientes.
- redução do custo de produção pela menor necessidade de uso de adubação nitrogenada
Na soja, em que o nitrogênio é o nutriente requerido em maior quantidade, as bactérias são capazes de suprir toda a necessidade pela fixação biológica do nitrogênio (FBN).
Contudo, altos rendimentos apenas são alcançados quando as boas práticas de inoculação são seguidas, não sendo necessária nenhuma complementação com fertilizante nitrogenado, em qualquer estágio de desenvolvimento da cultura.
Por outro lado, no milho, a inoculação com Azosipirillum brasiliensis não é capaz de suprir toda a necessidade de Nitrogênio da cultura.
Dessa forma, o produtor deve realizar adubação nitrogenada na semeadura e também de cobertura para garantir o sucesso do cultivo.
Como os inoculantes são aplicados?
Os fabricantes apresentam os inoculantes comerciais na forma líquida, gel ou sólidos (turfosos).
Na forma líquida, aplica-se o inoculante via semente ou toletes para produção de mudas e via sulco de semeadura, enquanto o inoculante turfoso aplica-se apenas via semente.
Normalmente, aplicam-se os inoculantes nas sementes de leguminosas e milho.
Em cana-de-açúcar, aplicam-se nos toletes para a produção de cana-planta e, posteriormente, pode-se aplicar na cana-soca.
Os inoculantes são microrganismos vivos e, por isso, deve-se evitar a exposição direta aos defensivos utilizados no Tratamento de Sementes, que podem matar as bactérias. Assim, recomenda-se aplicar os defensivos e esperar secar, para só então aplicar o inoculante.
Outra opção é realizar o Tratamento de Sementes com defensivos e fazer a inoculação no sulco (em dose maior). Assim se evita o contato das bactérias com os agroquímicos.
Nesse caso, para soja recomenda-se usar 2,5 vezes a dose do inoculante que seria usada nas sementes e diluída em pelo menos 50 L de água/ha.
Algumas empresas já comercializam os inoculantes “longa vida”, que permitem que a inoculação seja feita até 60 dias antes da semeadura.
Contudo, a maioria dos estudos aponta que o maior sucesso é obtido quando a semeadura é realizada no mesmo dia da inoculação.
Coinoculação de sementes
Recentemente tem-se estudado os efeitos a inoculação de sementes de soja e feijão com mais de uma bactéria: a chamada coinoculação.
Pesquisas conduzidas pelas Embrapa Soja e pela EMATER Paraná apontaram que essa prática pode aumentar ainda mais a produtividade pelo sinergismo entre as bactérias inoculadas.
Enquanto a inoculação apenas com Bradyrhyzobium spp. aumentou a produtividade de soja em 8,4%, a coinoculação com Azospirillum brasiliensis é capaz de aumentar para16,1%.
O mesmo ocorreu em feijão, onde o incremento na produtividade chegou a 20% (EMATER Paraná safra 2017/2018).
Esse resultado estaria relacionado à uma nodulação precoce e ao efeito hormonal causado por A. brasiliensis, que aumenta a emissão de raízes secundárias da planta.
Por consequência, com mais raízes secundárias, há mais sítios para a entrada do Bradyrhyzobium.
Boas práticas de inoculação
Para alcançar a eficiência prometida pelos produtos comerciais, é necessário que sigam todos os cuidados recomendados.
As Boas Práticas de Inoculação são uma série de recomendações essenciais que o produtor deve realizar.
Primeiro, o produtor deve sempre utilizar inoculantes registrados no MAPA, dentro do prazo de validade, transportados e conservados de maneira adequada.
Afinal, os inoculantes são produtos que contém microrganismos vivos, que não resistem a altas temperaturas.
Dessa forma, você precisa realizar a inoculação em local protegido do sol e, de preferência, semear logo após a inoculação.
Se tratar a semente anteriormente com fungicidas e micronutrientes, esses cuidados se tornam ainda mais importantes.
Os micronutrientes molibdênio e cobalto são muito importantes para a FBN, mas as bactérias nas sementes não podem ficar em contato prolongado com eles.
O produtor deve inocular as sementes seguindo todas as orientações técnicas do fabricante, para alcançar a máxima aderência e distribuição uniforme do produto.
Para obter melhor aderência do inoculante turfoso, recomenda-se umedecer as sementes com água açucarada a 10%.
O produtor precisa espalhar o inoculante uniformemente pela superfície da semente para obter o benefício máximo da fixação biológica do nitrogênio em todas as plantas.
Conclusão
O uso de inoculante à base de bactérias fixadoras de nitrogênio aumenta a produtividade e reduz o custo com fertilizantes.
Na soja, as bactérias são capazes de suprir toda a necessidade de Nitrogênio da cultura. Já em outras culturas, como o milho, é necessária a complementação com adubação nitrogenada.
Além da soja, o uso de inoculantes pode beneficiar diversas culturas, desde que seguidas as boas práticas inoculação.