Existem várias pragas e doenças de importância econômica que afetam a soja, como nematoides e lagartas. No entanto, a ferrugem asiática ainda é a mais temida devido à sua alta agressividade e grande potencial destrutivo.
Essa doença pode causar danos de até 90% na produção de soja, o que representa um grande impacto para os produtores. Além disso, o custo médio da ferrugem asiática chega a US$ 2,8 bilhões por safra no Brasil, refletindo um prejuízo significativo para a agricultura nacional.
Neste texto, iremos discutir sobre a ferrugem asiática da soja, abordando o panorama da doença nesta safra, os principais locais de ocorrência e as medidas de manejo integrado que podem ser adotadas para combater a doença. Portanto, acompanhe as informações a seguir e saiba mais sobre as melhores práticas para enfrentar essa ameaça.
Ferrugem da soja na safra 2020/2021
A ferrugem asiática no Brasil teve as suas primeiras ocorrências registradas na safra 2001/2002. Na Safra 2020/2021 o primeiro registro da doença ocorreu na cidade de Ubiratã – Paraná no fim de 2020.
O Brasil registrou 212 casos de ferrugem asiática em lavouras de soja comerciais nesta safra (2020/2021), número menor do que registrado na safra anterior.
O atraso das chuvas e, por conseguinte, da semeadura da soja, prolongou o período de vazio sanitário, o que contribuiu positivamente para a diminuição do inóculo da doença.
Portanto, não houve a combinação de longo período de molhamento foliar e quantidade suficiente de inoculo que causasse uma forte pressão da doença.
No entanto, as chuvas do início de 2020 podem proporcionar as condições favoráveis da doença nas próximas safras, por isso, o produtor deve cuidar do monitoramento e aplicar corretamente as medidas de manejo.
Ciclo da ferrugem da soja
A ferrugem da soja é causada pelo fungo biotrófico Phakopsora pachyrhizi, que sobrevive e se reproduz somente em plantas vivas.
P. pachyrhizi possui uma ampla gama de espécies hospedeiras, incluindo plantas de cobertura e plantas daninhas, onde o fungo também pode sobreviver e se multiplicar.
Os esporos do fungo, chamados de urediniósporos, são disseminados facilmente pelo vento de um local para outro podendo atingir longas distâncias.
Uma vez depositados nas folhas de soja, os esporos necessitam de molhamento foliar de no mínimo 6 horas e temperatura entre 15 e 25°C para que a infecção ocorra.
Portanto, chuvas abundantes e frequentes associam-se a epidemias mais severas da doença.
Para infectar a planta, o fungo penetra diretamente através da cutícula da folha de soja, e após alguns dias, você pode observar os primeiros sintomas.
Após a colonização do fungo nos tecidos da planta, ocorre a formação das urédias, onde se formam esporos (uredósporos).
Quando as urédias se rompem, liberam os esporos que reiniciam o ciclo. Sob condições favoráveis, o fungo completa seu ciclo de vida de 6 a 9 dias.
Sintomas da ferrugem da soja
Os sintomas da ferrugem asiática podem se manifestar em todos os estágios de desenvolvimento da cultura da soja. No entanto, eles são mais frequentes a partir do fechamento do dossel, uma vez que essa condição promove a formação de um microclima favorável ao patógeno.
Inicialmente, as lesões podem apresentar uma coloração verde-acinzentada. Com o avanço da infecção, essas lesões evoluem para tons marrom-escuro ou marrom-avermelhado, tornando-se mais visíveis e fáceis de identificar no campo.
Além disso, a coloração das lesões pode variar conforme a interação entre o genótipo da soja e a raça do patógeno. Dessa forma, diferentes cultivares podem apresentar respostas distintas à doença, o que reforça a importância da seleção de materiais mais tolerantes.
Outro aspecto relevante é que as lesões da ferrugem são angulares, pois são delimitadas pelas nervuras das folhas. Embora possam ocorrer em diferentes partes da planta, é mais comum que apareçam nas folhas, onde o fungo encontra melhores condições para se desenvolver.
As plantas infectadas tendem a sofrer desfolha precoce, o que compromete tanto a formação quanto o enchimento das vagens. Como consequência direta, ocorre uma redução no peso final dos grãos, impactando negativamente a produtividade da lavoura.
Manejo da ferrugem da soja
As estratégias de manejo da ferrugem asiática incluem, vazio sanitário, rotação de culturas, a utilização de cultivares de ciclo precoce e época correta de semeadura; utilização de cultivares resistentes; e o controle químico.
Vazio sanitário
O vazio sanitário é considerado uma das principais estratégias para o manejo da ferrugem asiática da soja.
Trata-se de um período de 60 a 90 dias em que não se pode semear ou manter plantas vivas de soja no campo.
Essa medida tem como objetivo reduzir a sobrevivência do fungo P. pachyrhizi durante a entressafra e assim, atrasar a ocorrência da doença.
Rotação de cultura
Assim como o vazio sanitário, a rotação da soja com culturas não hospedeiras do patógeno reduz as chances de sobrevivência do fungo entre as safras.
Recomenda- se a rotação principalmente com gramíneas, como por exemplo o milho.
Utilização de cultivares de ciclo precoce e época correta de semeadura
Variedades de ciclo precoce permanecem menos tempo no campo, diminuindo o período de exposição da planta à doença.
Realizar o plantio de acordo com o calendário de semeadura também ajuda a escapar da doença, pois quanto mais tarde sua lavoura se desenvolver maior a possibilidade da doença comprometendo sua produtividade.
Com essas medidas, provavelmente ocorrera uma redução no número de aplicação de fungicidas com isso, diminuir a pressão de seleção de resistência do fungo aos fungicidas.
Utilização de cultivares resistentes
Devido à alta variabilidade do fungo P. pachyrhizi, a obtenção de cultivares resistentes é um processo bem trabalhoso, pois a resistência pode ser facilmente suplantada.
No entanto, já têm no mercado cultivares tolerantes e várias pesquisas para desenvolver variedades resistentes.
Como por exemplo a variedade BRS 511, da Embrapa, que foi lançada em fevereiro de 2018 e que promete retardar o avanço da ferrugem na soja.
Controle químico
O controle químico é a medida mais utilizada para o controle da ferrugem asiática na soja e vários produtos são registrados no Ministério da Agricultura para controle dessa doença.
Devido à queda de sensibilidade do fungo aos fungicidas algumas recomendações importantes são feitas:
- Use de forma rotacionada fungicidas com diferentes mecanismos de ação,
- Associe fungicidas sítio específicos sempre os fungicidas multissítios,
- Siga o intervalo entre as aplicações e as doses recomendadas na Bula do produto e
- Evite aplicar o mesmo produto mais do que duas vezes seguidamente.
Monitoramento da doença nas lavouras de soja
O monitoramento é extremamente importante para determinar quando e quais medidas de controle adotar.
Para monitorar a doença, é necessário estar atento aos primeiros sinais do patógeno. Na parte inferior das folhas, observe se há urédias, pois elas armazenam os esporos.
Assim, caso a lavoura tenha sido infestada pela ferrugem, você pode adotar medidas precoces para reduzir o impacto na produtividade.
Outra maneira de monitorar a doença é através do portal Consórcio Antiferrugem. Ele exibe um mapa indicando as ocorrências da ferrugem da soja em todo o Brasil.
Assim, é possível verificar se há casos na região ou em locais próximos da lavoura.
Conclusão
Sem dúvidas, a ferrugem da soja é uma das maiores ameaças às lavouras de soja no Brasil, devido aos grandes riscos que ela traz à safra.
Com as informações contidas neste artigo monitore periodicamente a sua lavoura, associe várias medidas de manejo para reduzir perdas com a ferrugem asiática na sua lavoura!