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Uso de drones para fazer inventário de florestas e estimar volume de madeira

uso drones para fazer inventário

Uma metodologia automatizada permite realizar em três horas a medição de volumes de madeira em florestas que, de forma manual, levaria três semanas para ser realizada. Aplicável a diferentes demandas do manejo de florestas, a tecnologia desenvolvida pela Embrapa possibilita o uso de drones para fazer inventário de florestas, coletando dados em grandes extensões. A partir de combinações de imagens aéreas sequenciais é possível obter modelos 3D de alta precisão, com maior rapidez e baixo custo, para diferentes finalidades. A metodologia já auxilia técnicos do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) no monitoramento de concessões.

O uso de drones no manejo florestal é uma tendência do processo de automação do setor, iniciado há mais de uma década, e que ganhou celeridade com a chegada das geotecnologias para o planejamento da atividade. Segundo o pesquisador da Embrapa Acre Evandro Orfanó, as geotecnologias viabilizaram tarefas que não eram realizadas em função das dificuldades de acesso ou por serem excessivamente demoradas e onerosas.

O volume de toras é calculado quase automaticamente

“O mapeamento de florestas de forma manual é demorado e de alto custo. Com o uso de drones para fazer inventário de florestas, o procedimento poderá ser realizado em minutos, com investimentos reduzidos e resultados altamente confiáveis. É possível fazer um diagnóstico de diferentes aspetos do manejo florestal, em uma escala de centímetros, e visualizar detalhes antes impensáveis”, afirma o cientista.

As pesquisas para desenvolvimento da metodologia com drones iniciaram em 2015 com o objetivo de encontrar uma alternativa tecnológica para calcular o volume de madeira extraído da floresta (cubagem das toras), com redução da morosidade e incertezas do levantamento tradicional, problemas comuns no ramo madeireiro em diversas localidades da Amazônia.

Os testes em campo aconteceram em pátios de estocagem de empresas do Acre e Rondônia, sempre comparando com o método manual. Foram testados diferentes níveis de ajuste da metodologia automatizada de levantamento de estoques de madeira, para avaliar o grau de precisão das informações sobre a produção.

Para medir a madeira estocada, o drone sobrevoa os volumes empilhados e captura imagens que possibilitam obter medidas precisas de cada tora. Inicialmente a metodologia foi testada em mil metros cúbicos de madeira, em Rio Branco (AC). No método tradicional, cinco técnicos trabalharam durante sete dias para medir as toras, com uso de trena, anotar o diâmetro, o comprimento e calcular o volume individualmente.

“Com o uso de drone, a medição foi feita em apenas dez minutos, com diferença de meio porcento nos quantitativos apurados. Esse resultado representou um salto na atividade, por reduzir drasticamente o tempo de trabalho, com margem de erro quase zero”, conta Orfanó.

Os testes realizados na Floresta Nacional do Jamari (RO), em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão responsável pelo monitoramento de florestas manejadas em regime de concessão pública, confirmaram a eficiência da metodologia com drone na cubagem de madeira.

Para calcular a volumetria de 25 mil metros cúbicos, o equivalente a aproximadamente 800 caminhões de madeira em toras, foram necessários 16 minutos de sobrevoo e três horas de processamento das informações coletadas. “Manualmente, a atividade demandaria 21 dias de trabalho com, no mínimo, três profissionais”, diz o pesquisador.

Tecnologia agiliza vistorias florestais

Atualmente, o Brasil possui um milhão de hectares de floresta em regime de concessão pública, localizados nos estados de Rondônia e Pará, operacionalizados por meio de 17 contratos que produzem 175 mil metros cúbicos de madeira por ano, conforme dados do SFB. Essa produção é registrada pelas concessionárias no Sistema de Cadeia de Custódia da instituição.

De acordo com José Humberto Chaves, gerente de monitoramento e auditoria florestal do SFB, o uso de drones para fazer inventário de florestas proporcionou um salto na agilidade do processo de vistoria nos pátios de estocagem das concessionárias, com ganhos significativos em produtividade nas rotinas de monitoramento.

“Na medição tradicional, tínhamos dificuldade para fazer uma amostragem significativa da produção. A cada vistoria de três dias conseguíamos medir cerca de 150 toras. Com a metodologia com drone medimos o pátio inteiro, com até 24 mil metros cúbicos de madeira, em poucas horas de trabalho e conseguimos confrontar o resultado com a produção declarada pelas empresas no nosso sistema de rastreabilidade com maior segurança”, ressalta.

Na opinião do gestor, realizar o processo de cubagem de madeira com drone otimizou o tempo de trabalho e simplificou a atividade, que agora pode ser realizada por apenas uma pessoa, com redução de gastos com mão de obra e mais qualidade das informações geradas. “Com isso, as equipes de monitoramento têm mais tempo para atuar em outras operações de campo, como a instalação de parcelas permanentes e checagem da qualidade das estradas. Adotar a metodologia com drone trouxe vantagem também para as concessionárias, uma vez que a medição da madeira nos pátios de estocagem pode ser feita a qualquer tempo, sem a necessidade de interrupção das rotinas da empresa”, acrescenta.

Como a metodologia funciona

A metodologia com drone funciona com apoio de receptores GNSS (Sistema de Navegação Global por Satélite) instalados em solo e por meio de softwares específicos de processamento. As fotos aéreas produzidas por esses equipamentos são processadas e interpretadas com uso da fotogrametria digital, técnica que permite extrair formas, dimensões e posição dos objetos fotografados, já utilizada em projetos aeroespaciais, automobilismo, medicina e outras áreas.

Algoritmos de identificação de características das imagens constroem uma nuvem de pontos tridimensional do objeto sobrevoado, de onde são extraídas informações de volume, no caso de pilhas de madeira. “Para a programação dos planos de voo são usados parâmetros de sobreposição frontal, lateral e altura de voo adequados aos objetivos dos levantamentos aéreos e, ao assumir a função autônoma, o drone coleta os dados previamente definidos. A execução de levantamentos aerofotogramétricos com drones requer autorização de voo pela Agencia Nacional de Aviação Civil (Anac)”, esclarece Orfanó.

As alternativas de uso da tecnologia vão desde pacotes empresariais que exigem drones de alto padrão associados a computadores potentes que custam entre R$ 15 mil e R$ 200 mil, até versões simplificadas que utilizam um drone de baixo custo para o sobrevoo e enviam as imagens coletadas para uma nuvem de dados na internet, administrada por empresas de tecnologia, nas quais são processados e remetidos para o computador. “Independentemente da versão utilizada, a análise é feita a partir dos dados coletados, com base nos objetivos previstos. Por isso é importante programar bem o plano de voo para garantir a precisão das informações”, recomenda o pesquisador.

Fonte: Embrapa

Eucalipto cresce mais em sistemas ILPF do que em plantio em monocultura

Eucalipto cresce mais em sistemas ILPF do que em plantio em monocultura

A inserção de árvores nos sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), ainda encontra resistência por parte de alguns produtores. Cada vez mais, entretanto, dados de pesquisas mostram que, se bem manejado, o componente arbóreo gera ganhos produtivos e econômicos.

Pesquisa realizada na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), em uma área de ILPF com Eucalyptus urograndis plantado em linhas triplas e renques distantes 30 metros, mostrou que nos cinco anos iniciais, as árvores no sistema integrado cresceram 18% a mais do que árvores plantadas em monocultura. As árvores da ILPF ganharam em média 3,8 cm/ano, enquanto aquelas em silvicultura solteira ganharam 3,2 cm/ano.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul. Hélio Tonini, a diferença evidencia a maior competição por luz na monocultura. Embora o crescimento fosse distinto, não havia se verificado variação significativa no volume de madeira entre os indivíduos comparados.

O manejo das árvores, com a retirada das linhas laterais e manutenção da linha central, entretanto, mudou esse quadro. Em dois anos, o ganho em volume da área de ILPF com linha simples chegou a ser 54% maior do que na área com monocultura e 25% maior do que na área com renques de linhas triplas.

“Antes do desbaste havia um efeito de competição muito grande. As linhas das bordas acabam suprimindo o crescimento da linha central. A média de crescimento do renque era alta, mas, se pegássemos somente a linha central, pensando em serraria, ela estava perdendo em crescimento. Quando fizemos o desbaste, convertendo de linhas triplas para simples, ele retomou o crescimento e isso possibilitou o ganho”, explica o pesquisador da Embrapa Maurel Behling.

As árvores suprimidas no decorrer do experimento foram utilizadas para produção de postes, outdoors e também como lenha. Em uma situação de fazenda, isso representa renda para o produtor antes mesmo do corte final da madeira.

 

Manejo beneficiou todos os componentes do sistema

Esse manejo das árvores suprimindo as linhas laterais do renque triplo também resultou em maior ganho para o sistema. Nos tratamentos em que havia lavoura, a soja chegou a ter perda de produtividade de 24% no quinto ano, quando comparada a uma lavoura solteira. Após o desbaste, porém, recuperou a produtividade, igualando à lavoura sem árvores. A pecuária também se beneficiou da maior entrada de luz para as pastagens, preservando a sombra para os animais. No sistema com árvore, o ganho de peso de novilhos nelore por hectare em um ano foi de 40 arrobas, cerca de 30% maior do que em um sistema sem árvores.

Behling explica que a decisão sobre o manejo das árvores deve ser tomada de acordo com a estratégia definida e com o propósito do uso da madeira.

“Se o objetivo é usar como biomassa, quanto menos intervenções, melhor, já que há um custo elevado de mão de obra para as podas e desramas. Agora, se o objetivo é ter madeira de qualidade para serraria, os manejos são necessários. Para isso, o valor agregado da madeira tem que compensar as despesas do produtor”, pondera.

 

Fonte: Canal Rural

Embrapa lança método de avaliação de potássio para soja e cultivar de feijão no Show Rural

Embrapa lança método de avaliação de potássio para soja e cultivar de feijão no Show Rural

Foto aérea da Vitrine de Tecnologias da Embrapa no Show Rural

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apresentará na 31ª edição do Show Rural Coopavel, que será realizada de 04 a 08 de fevereiro, em Cascavel (PR), quase 50 inovações tecnológicas e dois lançamentos: o Fast-K, método de diagnóstico nutricional de soja realizado a campo e a BRS FP403, cultivar de feijão preto de alto rendimento.

A Embrapa estará presente no Show Rural por meio de 10 unidades pesquisa (Embrapa Arroz e Feijão, Embrapa Clima Temperado, Embrapa Gado de Corte, Embrapa Gado de Leite, Embrapa Instrumentação, Embrapa Mandioca e Fruticultura, Embrapa Pantanal, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Soja e Embrapa Suínos e Aves). As inovações trazem incrementos para segmentos, como: produção animal, genética, sistemas de produção sustentáveis de grãos, hortaliças, frutas, entre outros. As tecnologias serão apresentadas em três diferentes ambientes na Casa da Embrapa, na Vitrine de Tecnologias e na Vitrine de Tecnológica de Agroecologia “Vilson Nilson Redel”.

Além disso, os participantes poderão visitar a Livraria da Embrapa que irá comercializar cerca de 160 títulos de diferentes temáticas a preços acessíveis. Os visitantes também poderão interagir com os pesquisadores da Embrapa na Estação do Conhecimento, local em que serão promovidas 35 palestras sobre sete diferentes temas.

LANÇAMENTOS
Fast-K – método de avaliação de potássio a campo para a cultura da soja

O potássio (K) é o segundo nutriente mais exigido e também o segundo mais exportado pela cultura da soja. Esta alta exportação (cerca de 20 kg/ha de K2O para cada tonelada de grãos) pode levar à redução da disponibilidade de K no solo, caso os produtores não reapliquem quantidades de fertilizantes potássicos compatíveis com as exportadas.  Para aprimorar o manejo nutricional da cultura, a Embrapa desenvolveu uma ferramenta rápida para a avaliação do teor de K nas folhas de soja, de fácil utilização e interpretação e que permite ao produtor ter tempo hábil para tomar decisões em relação ao uso de insumos agrícolas de modo a evitar perdas e garantir a produtividade.

O “Método para determinação da concentração foliar de potássio (K) em condições de campo na cultura da soja” dispensa o uso de técnicas laboratoriais para a diagnose foliar (método padrão), eliminando a possibilidade de defasagem entre a amostragem, o preparo da amostra no laboratório e a emissão do resultado, que pode dificultar a tomada de decisão, em muitos casos tornando tardia a correção da deficiência.

Feijão de grão preto BRS FP403

É uma cultivar com alto rendimento, potencial de 4,7 mil quilos por hectare. Apresenta ciclo normal de crescimento (85-95 dias) e é recomendada para cultivo em 19 estados brasileiros. A BRS FP403 tem uma boa arquitetura de raizes com sistema radicular bastante vigoroso e tolerante a murcha de fusarium e Podridão-radicular-seca. Os seus grãos são graúdos com alta qualidade industrial. Possui plantas com porte semi prostrado e inserção de vagens altas em relação ao solo proporcionando adaptação à colheita mecânica direta.

Destaques

iLPF em realidade virtual: um dos destaques da Casa da Embrapa será a possibilidade de vivenciar o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta por meio da realidade virtual. Utilizando um óculos de realidade aumentada, o visitante verá a transformação de uma área degradada, com baixa capacidade de produção, em uma área produtiva e sustentável. O público também poderá adquirir as publicações da Embrapa para diferentes sistemas de produção.

Kit para monitoramento de insetos na soja: o kit reúne um pano de batida, uma caderneta de campo para monitoramento de insetos, um manual de identificação de insetos-pragas e um folder com informações gerais sobre Manejo Integrado de Pragas da Soja. O kit foi organizado para facilitar a aquisição de um produto completo para monitoramento de pragas na lavoura de soja. Diferente da tradicional ficha de monitoramento, a caderneta de campo foi planejada no formato de bolso para facilitar o registro, transporte e manuseio dos dados a campo por parte dos usuários. Nela também têm orientações de como realizar amostragens, além dos níveis de ação que devem ser considerados para tomada de decisão. O kit será comercializado na Livraria da Embrapa.

Sensoreamento remoto e aplicação na produção agrícola –  Na Vitrine de Tecnologias da Embrapa também estão previstas demonstrações de ferramentas de sensoreamento remoto no monitoramento de estresses na cultura da soja e indicadores para se ter o melhor uso das ferramentas digitais e das novas tecnologias no sistema de produção agrícola.

Ideias for Milk – A Embrapa também irá participar do Show Rural Digital com um painel enfocando o Ideias for Milk, iniciativa realizada anualmente pela Embrapa Gado de Leite, em que congrega um hackathon (Vacathon) e um desafio de startups. O objetivo é apresentar soluções digitais para os problemas da pecuária de leite. O painel será realizado no dia 7 de fevereiro e terá a participação de quatro startups vencedoras nas edições do Ideas for Milk. Ao final da exposição, haverá uma mesa redonda, debatendo sobre a Agricultura 4.0 e a revolução digital no campo.

Casa da Embrapa

Na área animal, os destaques são a produção de suínos em família sem uso coletivo de antimicrobianos e a compostagem, desidratação e biodigestão como alternativas para a destinação correta de animais mortos nas propriedades rurais. Na área de grãos, serão apresentadas uma coleção de sementes de feijão e tecnologias para o sistema de produção de soja. O visitante poderá se atualizar sobre temas que podem comprometer a produtividade da cultura da soja, como pragas, doenças, plantas daninhas e manejo da fertilidade solo.

Variedades de abacaxi, banana e mandioca da Embrapa, além da rede RENIVA que possibilita a produção em larga escala de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária estarão sendo demostradas. Outra novidade são os nanopigmentos magnéticos. Diferentemente de um pigmento tradicional em que a cor consiste na característica mais marcante, os nanopigmentos magnéticos, além da cor, respondem à aplicação de um campo magnético externo por meio de um imã, o que lhes dá novas características. O uso desse material pode ocorrer em diversos setores, especialmente na agricultura, mas também na biomedicina, na farmacologia e até mesmo na indústria têxtil e cosmética.

Vitrine de Tecnologias

Na Vitrine da Embrapa serão apresentadas variedades para as culturas da soja, feijão e mandioca. Na cultura da soja, a Embrapa apresenta as cultivares convencionais, BRS 511, BRS 284 e BRS 283, as transgênicas BRS 413 RR, BRS 433 RR, BRS 388 RR, BRS 399 RR, e com tecnologia Intacta, BRS 1001 IPRO, BRS 1003 IPRO, BRS 1007 IPRO e BRS 1010 IPRO. Todas apresentam ótimo desempenho e resistência às principais doenças que atacam a cultura.

Também serão apresentadas as variedades de feijão, com grãos do tipo preto, carioca e especial: BRS Esteio, BRS Esplendor, BRS FC104, BRS FC402, BRS Estilo, BRS Ártico, BRS Embaixador, BRSMG Realce e a BRS FP403, cultivar em lançamento. Além de grãos, experimentos com a cultura da mandioca foram implantados com variedades apropriadas para o Centro-Sul do país. Serão apresentadas as mandiocas de mesa, BRS 396 e BRS 399, além da mandioca para indústria BRS CS01.

Estação do Conhecimento

A Vitrine de Tecnologias da Embrapa abriga ainda a Estação do Conhecimento, onde estão programadas mini-palestras com orientações práticas. A ideia é facilitar a interação do produtor com a equipe técnica da Embrapa. Confira a agenda do dia na Vitrine de Tecnologias da Embrapa ou no site especial da Embrapa no Show Rural.

Vitrine Tecnológica de Agroecologia

Nesse espaço, a Embrapa em conjunto com uma rede de parceiros, demonstrará os princípios da Agroecologia e a diversidade de cultivos, onde se empregam técnicas com baixo impacto ambiental, acessíveis aos agricultores, com diferentes fontes de renda e possibilidades de agregação de valor. Como destaque da Embrapa, será apresentada uma prensa manual para silagem, um sistema de irrigação alternativo de baixo custo em garrafas PET, e uma câmara de multiplicação rápida com as manivas em brotação.

Texto: Andrea Vilardo e Lebna Landgraf (MTb 2903/PR)

Por Embrapa.

Extrativistas mapeiam açaizais na Reserva Chico Mendes

Extrativistas mapeiam açaizais na Reserva Chico Mendes

 Durante três meses populações tradicionais identificaram pés de açaí nativo e aprenderam como organizar a produção e a comercialização do fruto com a participação das associações locais.

Três mil açaizais nativos da espécie Euterpe precatoria Mart. identificados e localizados pelos extrativistas da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes no município de Epitaciolândia (AC) somam juntos uma previsão de 21 toneladas para a safra de 2019. Este foi o resultado apresentado, no início de dezembro, no encontro final da atividade “Serviços técnicos para mapeamento participativo de populações nativas de açaí-solteiro na Resex Chico Mendes”, realizada pelo Bem Diverso no Território da Cidadania de Alto Acre Capixaba.

O mapeamento busca ajudar as populações tradicionais de parcela da Resex Chico Mendes localizada no município de Epitaciolândia a organizar a produção do açaí nativo para venda, com a parceria da Associação dos Moradores e produtores da Resex Chico Mendes, em Brasileia e Epitaciolândia (AMOPREBE), da Embrapa Acre, de gestores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e de técnicos da Universidade Federal do Acre (UFAC).

“Temos a oportunidade de a produção do açaí nativo das comunidades tradicionais vir a ser um produto essencial para a economia dos extrativistas”, declarou a engenheira agrônoma e coordenadora da atividade pela UFAC, Professora Andréa Alechandre.

A atividade de campo para a localização geográfica dos pés de açaí durou cerca de um mês e resultou no mapa com a indicação de cerca de 3 mil açaizais, cerca de 100 por produtor. Os dados colhidos também apresentam uma estimativa para a safra de 2019, que começa com a colheita em no mês de maio até meados de agosto.

“Trabalhamos com uma previsão de estoque de 21 toneladas de fruto, o que daria uma renda de R$ 40 mil, nos valores atuais”, sistematizou a Andréa Alechandre. Ela ainda explicou que a previsão tem como base metade dos pés de açaí, “pois na floresta não é garantido que todas as árvores frutifiquem todos os anos”.

Açaí-solteiro e o fortalecimento das comunidades tradicionais

As atividades de formação do mapeamento começaram há três meses a partir da definição dos núcleos de base, grupos familiares extrativistas interessados em comercializar o açaí. Foram formados seis núcleos num somatório de trinta famílias produtoras, que localizaram e identificaram os pés de açaí, com auxílio do GPS, após treinamento em oficinas de mapeamento coletivo.

O analista da Embrapa Acre Daniel Papa acompanhou as atividades em campo e ressaltou que a utilização dos equipamentos de GPS na fase de mapeamento do pés de açaí não foi o principal desafio. “Muitos extrativistas já conhecem a tecnologia, encontrada na maioria dos celulares atualmente. Para os participantes, o que mais chamou atenção foi a valorização do trabalho de campo, levando em consideração o conhecimento local dos produtores”, explicou .

A atividade ainda promoveu capacitação voltada a estimativa de estoque e planejamento da produção e comercialização de frutos do açaí com a participação das associações locais; além de oficina de boas práticas de manejo com utilização de equipamentos de coleta sem escalada.

Segundo Alechandre, o principal avanço foi o envolvimento das famílias para a que houvesse um novo impulso para organização da venda da produção local. “Ao mostrar o atual cenário de comercialização do fruto, o preço praticado no mercado e a capacidade de produção local observamos o estímulo dos produtores a retomarem as atividades. Existem outras famílias que querem se envolver no trabalho e as que já fizeram seu mapeamento querem aumentar o número de açaizais mapeados”.

A espécie Euterpe precatoria Mart. também é conhecida como açaí-do-amazonas, açaí-da-mata ou açaí-de-terra-firme. Nativo da região oeste da Amazônia brasileira – com predomínio nos estados do Acre, Rondônia e sul do Amazonas -, o açaí-solteiro ainda é encontrado no Peru e na Bolívia. O açaí da região possui um único caule, chamado de estipe pelos pesquisadores, e é diferente da espécie encontrada nos estados Pará, Amapá e no Maranhão, a Euterpe oleracea Mart.. A  principal característica deste é o que os especialistas chamam de perfilhamento ou brotação: o estipe da palmeira multiplica-se rapidamente e dá origem a vários outros caules na mesma planta.

Saiba mais sobre o Projeto Bem Diverso.

Por Embrapa.

Pesquisa identifica pimenteira-do-reino livre de vírus

Pesquisa identifica pimenteira-do-reino livre de vírus

Cientistas conseguem obter pimenta-do-reino 100% livre de vírus ->

 

 

 

 

 

 

Dois vírus estão disseminados em praticamente todas as lavouras de pimenta do Brasil. Eles comprometem a fotossíntese, inibem o crescimento da planta e, consequentemente, sua produtividade. Recentemente, pesquisadores da Embrapa encontraram um material 100% sadio que deverá dar origem a uma nova cultivar livre dos microrganismos.

“Os vírus não matam a planta, até mesmo porque eles se beneficiam dela, mas impedem seu crescimento pleno, fazendo com que seu tamanho e sua produtividade sejam muito aquém da sua capacidade. Uma planta livre de vírus consegue expressar toda sua potencialidade”, afirma Oriel Lemos, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental (PA).

Pará responde por metade
da produção nacional

A identificação e o desenvolvimento de uma cultivar livre de vírus representam um grande passo na pipericultura paraense. O estado do Pará é o maior produtor nacional de pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) com quase 40 mil toneladas em 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que só o estado é responsável pela metade da produção brasileira, que naquele ano foi de quase 80 mil toneladas.

Durante muito tempo, a fusariose ou a podridão-das-raízes, causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. piperis, foi considerada o maior problema da pimenteira-do-reino no estado do Pará. “Mesmo assim, com boas práticas, manejo adequado e o uso de cultivares recomendadas, é possível produzir mudas sem a doença”, conta o pesquisador.

Já a virose é um problema silencioso, pois os sintomas podem aparecer gradativamente ao longo da vida do pimental e aos poucos vão deixando sequelas, como a diminuição do tamanho das plantas e, consequentemente, a redução na produtividade. E é crônico, pois toda muda produzida de uma matriz infectada carrega a carga viral. Para a virologista Alessandra de Jesus Boari, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, a virose é um problema maior do que se imagina. “Muitos produtores ainda não sabem reconhecer a planta doente no campo”, completa.

Busca por um material sadio

O trabalho se iniciou na década de 1990. Após um processo de seleção de plantas no campo, foi identificado um material com características diferenciadas. O passo seguinte foi a germinação in vitro das sementes dessa planta em laboratório, o que resultou na seleção das dez plantas mais vigorosas e sadias. Elas foram clonadas, garantindo assim que as mudas produzidas pelo processo de micropropagação mantivessem fidelidade às matrizes.

“As mudas clonadas foram levadas para a área de um produtor e duas plantas de um mesmo clone se destacaram e foram multiplicadas por cerca de dez anos. O desenvolvimento dessas plantas no campo vem sendo acompanhado detalhadamente”, conta Oriel Lemos.

Os clones das melhores plantas apresentaram o entrenó maior que as cultivares tradicionalmente utilizadas no campo, o que permite a melhor frutificação nos ramos e facilita a colheita. Eles têm maturação dos frutos mais homogênea e apresentam espigas sem falhas de frutos. Seu rendimento ficou em 33% na secagem da pimenta, enquanto as plantas tradicionais apresentam rendimento de 28%. Além disso, os novos clones se adaptam melhor ao período de estiagem. Todas essas características foram herdadas da planta original.

Mas o que mais chama a atenção de pesquisadores e produtores é que esse material é livre de vírus, ou seja, 100% sadio. Ele dá origem a uma nova cultivar de pimenteira-do-reino a ser lançada em 2019 pela Embrapa. Atualmente, o material está sendo cultivado em áreas de produtores no município de Baião, no nordeste paraense.

Problema silencioso

Fernando Albuquerque produz mudas de pimenteira-do-reino há cerca de 30 anos no município de Castanhal, no nordeste do Pará, e vende para todas as regiões do estado. Segundo ele, o principal obstáculo hoje é produzir uma muda de qualidade. “A pesquisa da Embrapa já avançou muito nesse sentido. A fusariose é um problema que pode ser controlado com boas práticas e manejo adequado, mas os vírus ainda não sabemos como eliminar da planta. Esse é o nosso maior problema”, conta o produtor.

O levantamento de viroses na pimenteira-do-reino no estado do Pará evidenciou a presença de dois vírus: o Piper yellow motte virus (PYMoV) e o Cucumber mosaic virus (CMV). Segundo a pesquisadora Alessandra J. Boari, há ainda um terceiro vírus que está em processo de sequenciamento genético em uma parceria da Embrapa com a Universidade Nacional de Brasília (UnB) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

De acordo com a pesquisadora, o PYMoV é o mais disseminado, e não somente no Pará. “Nas lavouras de Minas Gerais, Espírito Santo e da Bahia esse vírus também já foi encontrado”, alerta. Ela explica ainda que o vírus PYMoV pode ser transmitido pela cochonilha, que tem sua maior importância em viveiros de mudas. Mas como a pimenteira-do-reino é propagada por meio de estacas, a disseminação desse vírus ocorre principalmente por meio do uso de mudas infectadas provenientes de matrizes doentes.

As plantas adoecem

Os sintomas variam de acordo com as cultivares utilizadas no campo, mas de uma forma geral, o vírus causa a redução do tamanho das folhas e o mosaico de cores, no qual as folhas perdem a uniformidade da cor verde e apresentam manchas amarelas, comprometendo assim, entre outros processos, a fotossíntese da planta, o que culmina na menor produtividade de frutos de pimenta.

Os vírus afetam o desenvolvimento da planta como um todo ao longo do tempo. “As folhas ficam pequenas, deformadas e com mosaico, reduzindo o processo de fotossíntese e consequentemente levando à diminuição da produção. E não há remédios para a eliminação dos vírus”, resume a cientista.

Isso tudo tem um agravante, segundo a pesquisadora: a carga viral passa de “planta-mãe para filha”. Portanto, toda muda produzida a partir de estaca de uma planta doente já carrega o vírus consigo. Esse processo de adoecimento da planta e da perpetuação da carga viral ao longo das gerações tem o nome de degenerescência.

O agricultor João Benedito Gomes Cantão, do município de Mocajuba, vem perdendo produção ano após ano. “Eu faço poda manual e consigo manter o pimental produzindo mesmo com a fusariose, mas com a virose não tem jeito. Já recorri a outras cultivares para tentar produzir melhor”, afirma.

A Embrapa já desenvolveu sete cultivares de pimenteira-do-reino que atualmente são utilizadas em todas as lavouras brasileiras. Porém as viroses, segundo Alessandra J. Boari, vêm provocando mudanças significativas nos campos de produção.

A cultivar de pimenteira-do-reino mais plantada na região era a BRS Cingapura. Com a ocorrência das viroses essa realidade vem mudando e os plantios estão sendo paulatinamente substituídos por outras cultivares, como a BRS Bragantina, também desenvolvida pela Embrapa. “As plantas de Bragantina, apesar de também terem o vírus PYMoV, não mostram sintomas e possivelmente apresentam mais tolerância a esse vírus”, ressalta a pesquisadora.

Porém, mesmo após a disponibilização do novo material livre de vírus aos produtores, é preciso cuidado para evitar a infecção tanto no campo quanto nos viveiros de mudas. “Atualmente, os vírus estão em todos plantios. Por isso, os produtores devem priorizar boas práticas de manejo e adquirir mudas de viveiristas credenciados pelo Ministério da Agricultura”, alerta o pesquisador Oriel Lemos. Dessa forma, é possível ter um pimental sadio, mais produtivo e com menores custos de produção.

Por Embrapa.