A estimativa na Embrapa é de que a pesquisa, já em andamento, esteja concluída em dez anos, quando novas sementes ficarão disponíveis para o produtor
Publicado originalmente no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Um acordo de cooperação para o desenvolvimento de algodão transgênico resistente ao bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis), principal praga desse cultivo foi assinado nesta quarta-feira (6), na sede da Embrapa, em Brasília. A pesquisa envolverá duas unidades da Embrapa (Algodão e Recursos Genéticos e Biotecnologia), além do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), com financiamento da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), por meio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).
A praga afeta todas as regiões produtoras do país e representa custo de US$ 250 por hectare, além de perdas de produtividade e impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Em uma primeira fase do projeto, serão investidos pela Abrapa aproximadamente R$ 18 milhões durante cinco anos.
“A assinatura do acordo resultará em grandes benefícios ao setor algodoeiro e, por consequência, ao país. O ministro Blairo Maggi (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) é um apoiador desse tipo de parceria”, disse Coaraci Castilho, chefe de gabinete do Mapa, que representou Maggi no evento.
O chefe-geral da Embrapa Algodão, Sebastião Barbosa, explicou que essa unidade já trabalha no desenvolvimento de plantas resistentes ao bicudo, mas que a injeção de recursos externos acelera as atividades do projeto.
“Trabalhamos na modificação de plantas do algodoeiro, introduzindo genes da bactéria Bacillus thuringiensis, que produz toxinas letais para alguns insetos. O trabalho vem sendo realizado em laboratórios e casas de vegetação, havendo ainda muitas etapas a serem percorridas até que uma planta resistente seja cultivada comercialmente. Nossa expectativa é de que em 10 anos teremos a semente desse algodão resistente ao bicudo disponível ao produtor”, prevê.
Denominado Plataforma do Algodão, o projeto tem componentes de curto, médio e longo prazos, possibilitando desenvolver tecnologias diversificadas para combate ao bicudo. Nessas etapas se incluem a prospecção de genes e de promotores moleculares, a transformação genética de plantas de algodão e estudos da eficiência de plantas transgênicas no controle do bicudo em laboratório, casa de vegetação e campo.
O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Algodão, Liv Severino, disse que nos trabalhos prévios estão sendo obtidas plantas que impedem a sobrevivência do bicudo. “É apenas o primeiro passo, mas nos deixa otimistas de que conseguiremos desenvolver plantas que propiciem controle eficaz da praga. A Plataforma do Algodão será um trabalho continuado que desenvolverá novas opções, além da tecnologia Bt (bactéria do solo Bacillus thuringiensis) que está sendo considerada nessa primeira fase”, declara.
Segundo o coordenador da Plataforma do Algodão na Embrapa, Jaime Cavalcanti, as ações serão executadas em Campina Grande (PB) e em Goiânia, onde as plantas transformadas por todos os parceiros serão avaliadas quanto à transformação genética. “Inicialmente serão conduzidos bioensaios em casa de vegetação com as plantas que já haviam sido transformadas pela equipe da Embrapa Algodão e, posteriormente, com as novas desenvolvidas ao longo do projeto. As plantas selecionados serão avaliados por meio de diversas técnicas moleculares para confirmar a presença e a expressão de transgenes e suas toxicidades”.
Disseminação
Mais de três décadas após a sua chegada ao Brasil, o bicudo do algodoeiro permanece como o maior problema fitossanitário do cultivo e encontra-se disseminado por todas as regiões produtoras de algodão. “A grande disponibilidade de alimento e abrigo causada principalmente pela destruição ineficiente de restos de plantas da safra anterior permite ao bicudo alta capacidade de sobrevivência e de reprodução”, afirma o pesquisador da Embrapa Algodão, entomologista José Ednilson Miranda.
Castilho, lembrou, em seu discurso que a cultura do algodão tem crescido muito no Brasil. “Atualmente exportamos para 35 países. Na safra 2016/2017 conseguimos exportar 639 mil toneladas de pluma e, embora tenha sido 32% menor que na safra anterior, conseguimos manter a balança comercial positiva em 896 milhões de dólares”, afirmou.