O controle da formiga cortadeira no Brasil

As formigas cortadeiras são consideradas pragas por atacarem plantas em áreas de reflorestamento, pastagens e cultivos agrícolas. As formigas cortadeiras (Atta sexdens, Atta laevigata e Acromyrmex spp.) podem causar severas desfolhas em mudas ainda mesmo nos viveiros. Quando não controladas, após a transferência das mudas para o campo, retardam o desenvolvimento e podem causar até morte de plantas.

Tipos de controle

Na literatura são descritos três tipos de controle, são eles:

  • Controle Cultural: trata-se de quatro diferentes práticas.
  • Movimentação do solo nos locais dos formigueiros, principalmente no caso das quenquéns, pois seus formigueiros são bastante superficiais;
  • Revestimento do caule com um cone de proteção (confeccionado com plástico ou câmara de ar), a 30 cm do solo, com a parte mais larga voltada para baixo, tem dado resultados por impedir a subida das formigas;
  • Uso de garrafas de plástico (refrigerantes) para proteger plantas jovens e mudas recém-plantadas; e
  • Cultivo próximo ao pomar de plantas repelentes como: batata-doce, gergelim, rim de boi e algumas euforbiáceas.
  • Controle Biológico

Os predadores naturais das saúvas são: aves, sapos, rãs, tatus, tamanduás, lagartos, lagartixas, besouros dos gêneros Canthon e Taeniolobus, formigas dos gêneros SolenopsisParatrechina e Nomamyrmex, além de mosca da família Phoridae.

  • Controle Químico

O controle químico é instrumento importante e, muitas vezes, imprescindível no controle das formigas cortadeiras. As técnicas mais comuns de controle empregadas são as iscas tóxicas e a termonebulização, por apresentarem boa eficiência de controle. Contudo, existem vários produtos disponíveis no mercado, como: pós-secos, líquidos, gases.

As iscas à base de bagaço de laranjas, óleos essenciais e cobre atuam por ingestão e são de ação retardada, características essenciais para garantir a dinâmica de contaminação da colônia. Devem ser colocadas próximos às bocas dos formigueiros e junto dos carreiros. É o método de controle mais comum e eficiente.

Isca formicida

Atualmente, o controle químico por meio do uso de iscas representa o método mais utilizado no Brasil para combater as formigas cortadeiras. Nesse contexto, destaca-se o uso da isca formicida granulada, que, por sua vez, oferece inúmeras vantagens. Entre elas estão: facilidade de aplicação, alto rendimento operacional, elevada eficiência e, além disso, condições econômicas favoráveis.

Como funciona a isca formicida?

Basicamente, o formicida é uma mistura de compostos químicos formulada na forma granulada. Desse modo, as formigas carregam o produto para o interior do formigueiro como se fosse alimento comum. Justamente por isso, o efeito do veneno é propositalmente lento, o que permite que as formigas sejam contaminadas por doses mínimas, sem desconfiarem do perigo. Caso contrário, elas deixariam de transportar o alimento tóxico para dentro da colônia, o que, consequentemente, reduziria a eficiência do produto.

No entanto, um dos maiores desafios para garantir a eficácia da isca é simular de forma convincente o alimento natural das formigas. Essas pragas são extremamente sensíveis e seletivas em relação ao que consomem. Por essa razão, o elemento atrativo da isca – um dos seus principais componentes – precisa, obrigatoriamente, conter ingredientes semelhantes aos encontrados em sua dieta natural.

Iscas à base de Sulfluramida

Entre os princípios ativos mais utilizados nesse tipo de produto, destaca-se a sulfluramida. Ela compõe diversos inseticidas de ação lenta formulados com substâncias atrativas, sendo, portanto, eficazes contra as formigas.

Além disso, por questões de segurança e também devido à sua alta toxicidade, a sulfluramida é empregada em doses bastante reduzidas. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regula a quantidade presente em cada formulação por meio de monografias públicas. O número de CAS dessa substância é 4151-50-2, internacionalmente conhecida como PFOSA.

Nas iscas, a sulfluramida é absorvida, juntamente com o óleo da formulação, por uma glândula localizada na cabeça das formigas. Como resultado, essa substância inibe a produção de energia nas mitocôndrias — estruturas celulares vitais para o metabolismo. Assim, a formiga perde energia, entra em colapso e morre.

Um bom exemplo disponível no mercado é a isca formicida ATTA MEX-S, cujo ingrediente ativo é a SULFLURAMIDA (N-ethylperfluorooctane–1-sulfonamide). Essa isca, além de não possuir odor, age lentamente e ataca diretamente as mitocôndrias, impedindo o fluxo de prótons e, consequentemente, a formação de ATP.

A polêmica em torno da Sulfluramida

Embora regulamentem a sulfluramida, as autoridades levantam preocupações ambientais significativas sobre seu uso. Isso se deve, principalmente, ao fato de que, quando se degrada no solo, transforma-se em PFOS (sulfato de perfluorooctano). Trata-se de uma substância tóxica, bioacumulativa e extremamente persistente no meio ambiente. Em outras palavras, ela pode permanecer ativa por séculos.

Em maio deste ano, durante a 9ª Conferência das Partes da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, os representantes dos governos decidiram permitir a continuidade do uso da sulfluramida, sem estabelecer prazos para sua eliminação.

Ainda assim, ambientalistas alertam que essa decisão pode agravar os níveis de contaminação do solo, da água e até dos alimentos.

Vale destacar que o Brasil se tornou o maior produtor mundial de sulfluramida, enquanto a produção foi interrompida nos Estados Unidos, na Europa e, mais recentemente, na China.

Embora o uso de PFOS tenha sido amplamente eliminado em boa parte do mundo, a indústria brasileira de sulfluramida cresceu consideravelmente.

Em 2008, por exemplo, o país produziu cerca de 30 toneladas do pesticida. No entanto, em 2015, as estimativas apontavam uma produção entre 40 e 60 toneladas.

Um mal necessário?

Por um lado, os inseticidas são essenciais para o aumento da produtividade agrícola e para o controle de pragas que afetam o bem-estar humano. Assim, em muitos casos, o uso desses produtos se torna praticamente inevitável. Desde o plantio até o transporte das culturas, a aplicação de inseticidas contribui diretamente para evitar prejuízos econômicos significativos.

Segundo a Abraisca (Associação Brasileira das Empresas Fabricantes de Iscas Inseticidas), a sulfluramida continua sendo indispensável. De acordo com a associação, ela garante não apenas a proteção das culturas, mas também a segurança das pessoas e do meio ambiente.

Por outro lado, entidades ambientais argumentam que existem métodos alternativos de controle de formigas cortadeiras, que não envolvem compostos químicos persistentes. Apesar disso, representantes da indústria insistem que, até o momento, não há alternativas igualmente eficazes à sulfluramida.

Portanto, observa-se que ainda falta uma conscientização ampla sobre os impactos e os riscos desse componente. À medida que o uso da sulfluramida aumenta, crescem também os relatos de contaminação ambiental por PFOS.

De 2004 a 2015, a produção nacional de sulfluramida gerou, segundo estimativas, até 487 toneladas de PFOS lançadas no meio ambiente. Dessa forma, aumentou a frequência com que esse resíduo tóxico é encontrado no solo, nas plantas e em rios e águas costeiras brasileiras.

 

Fonte: Mata Nativa

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