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Sistemas integrados garantem produção sustentável na Caatinga

Sistemas integrados garantem produção sustentável na Caatinga

Em Ibaretama (CE), o sistema ILPF garante reserva de alimento para rebanho

Além de aumentar renda do produtor, sistemas integrados podem combater desertificação no semiárido

Produtores do Semiárido encontraram no sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e nos sistemas agroflorestais um jeito eficiente de diversificar as atividades de suas propriedades. Com isso, conseguiram aumentar o faturamento da atividade, sem impactar o meio ambiente, adotando manejo mais sustentável. Com a ILPF é possível ainda recuperar áreas degradadas e combater a desertificação.

Na comunidade Sítio Areias, em Sobral (CE), desde 2012 alguns produtores já experimentam com sucesso a prática de sistemas de produção agroflorestais, com a criação de bovinos, caprinos, ovinos e suínos; a lavoura de milho e feijão; a produção agrícola de verduras e ervas medicinais.

Madeira garante renda na seca
Segundo o zootecnista Rafael Tonucci, pesquisador da área de Forragicultura e Pastagens da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) o sistema permite integrar a produção vegetal, animal e florestal na propriedade. Em anos de seca muito intensa, quando a lavoura produz pouco é possível obter renda com o corte e comercialização da madeira.

Na região de Sobral, a Embrapa desenvolve experimentos em áreas pequenas, com menos de dois hectares, combinando o cultivo de espécies de mata nativa com culturas agrícolas e gramíneas para formação de pasto, possibilitando a diversificação da produção.

“São exemplos de como o sistema ILPF pode ser viável no âmbito da agricultura familiar”, diz Tonucci. Em Ibaretama, município do Sertão Central do Ceará, por exemplo, em duas áreas de um hectare cada, foi registrada uma produção de 25 a 30 toneladas de matéria verde, suficiente para garantir alimento para o rebanho (silagem) para um período de dois anos. “Para isso, foi preciso apenas conhecer os princípios desses sistemas e adequá-los à realidade daquele local”, enfatiza o pesquisador.

Alguns agricultores estão obtendo produtividades maiores em suas lavouras mudando apenas uma prática baseada no uso do fogo para uma produção ambientalmente sustentável. “No meu quintal tudo dá. Já colhi abacaxi, verdura, tomate, pimentão. E já doei sacolas de verduras para a escola da cidade”, conta a agricultora Regina de Sousa.

http://materiais.agropos.com.br/webinar-recuperacao-de-areas-degradadas

ILPF recupera solos degradados
No experimento em Ibaretama, estão sendo usadas duas áreas cedidas por um produtor rural. Em uma delas, de 1,5 hectare, foram plantadas linhas de sabiá (árvore da Caatinga) para composição de floresta, além de feijão caupi, milheto, sorgo e girassol. Os resultados do plantio foram usados de forma diversificada: o feijão foi aproveitado para colheita, sorgo e girassol foram usados para silagem aos animais, o milheto serviu para compor a cobertura vegetal do solo (condição importante em áreas de solos menos férteis).

“Em uma área de solo pobre, onde não se produzia nada, conseguimos plantar floresta com sucesso, usando essas técnicas para recuperação de solo degradado, e já temos forragem disponibilizada para os animais na estação seca”, explica Rafael Tonucci. Em outra área, de um hectare, além do sorgo e milheto, foram introduzidas plantas leguminosas (leucena e gliricídea), entre outras espécies nativas, e também o capim Massai, na expectativa de compor pasto para os animais nos próximos anos.

Sistemas em base comunitária
Outra prática adotada por produtores da região é a de adequação dos sistemas de produção locais a uma perspectiva de base agroecológica, o chamado redesenho para compor sistemas agroflorestais. Na comunidade Sítio Areias, em Sobral, a Embrapa incentivou este trabalho em base comunitária: os produtores locais integram suas áreas de criação de animais para produção e lavoura às áreas de uso sustentável da caatinga nativa, inclusive com o intercâmbio de forragem ou esterco entre os agricultores.

Segundo o zootecnista Éden Fernandes, analista da Área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Caprinos e Ovinos, estas trocas são outro benefício para comunidades de agricultores familiares. “O produtor que optou por um componente mais agrícola acaba cedendo a forragem para outro produtor que já tem um sistema de natureza pastoril. “Ele colhe o milho por exemplo, para sua alimentação e cede a palhada como forragem para outro agricultor que cria caprinos ou bovinos. Esse outro produtor também faz a partilha, devolvendo leite produzido em sua propriedade”, detalha.

Busca da sustentabilidade
Uma das perspectivas das pesquisas em sistemas de produção integrados no semiárido brasileiro é contribuir para a sustentabilidade da produção agropecuária, em seus diversos aspectos. “As vantagens deste tipo de sistema para aquela região são de natureza biológica e socioeconômica. Biológica porque tem componentes diferentes no sistema, explorando luz, água e nutrientes, além da conservação do solo e da água. Nas questões socioeconômicas, temos a oportunidade do retorno de renda e a diversificação dos bens e serviços gerados”, destaca Fernandes.

Em sistemas dessa natureza, há diversas possibilidades para uso das árvores, desde sua utilização como um fator contribuinte para preservação do solo e como sombra para o bem-estar dos animais até a exploração da madeira de algumas espécies para incremento da renda dos agricultores.

“No Semiárido, é possível manter sempre a cobertura vegetal, mantendo assim, um pouco de água no solo. Além disso, as árvores também servem de barreira para um outro problema sério nesta região: a erosão eólica (provocada pelos ventos)”, acrescenta o pesquisador Rafael Tonucci.

Outra perspectiva é de que os experimentos mostrem a viabilidade de um arranjo espacial que, ao combinar lavoura, pecuária e florestas, otimizando e intensificando o uso das áreas produtivas, permita a futura introdução de máquinas agrícolas.

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Sistemas de produção integrados 
Os sistemas de integração envolvem a produção de grãos, fibras, madeira, energia, leite ou carne na mesma área, em plantios em rotação, consorciação ou sucessão. O sistema funciona basicamente com o plantio, durante o verão, de culturas agrícolas anuais (arroz, feijão, milho, soja ou sorgo) e de árvores, associado a espécies forrageiras (braquiária ou panicum). Existem várias possibilidades de combinação entre os componentes agrícola, pecuário e florestal, considerando espaço e tempo disponível, resultando em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (ILPF), lavoura-pecuária (ILP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais (SAF).

Adoção de ILPF no Nordeste brasileiro
Uma pesquisa realizada em 2016 pela empresa Kleffman Group, por solicitação da Rede ILPF [parceria público-privada formada por Embrapa, Cocamar, Bradesco, John Deere, Soesp e Syngenta, com objetivo de acelerar adoção das tecnologias de integração no país] apresentou alguns dados sobre a realidade dos sistemas de integração na região Nordeste. Dos 493 produtores rurais entrevistados (com bovinocultura como atividade predominante), 60% já conhece o conceito de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, embora a adoção do sistema na região ainda seja de 41% – alguns dos estados apresentam índices de adoção acima dessa média, como é o caso de Alagoas (51%) e Sergipe (44%).

Um fator positivo mostrado neste levantamento é que entre os produtores entrevistados que já adotam sistemas ILPF, 78% dizem estar satisfeitos ou muito satisfeitos. Os maiores índices de aprovação estão no Rio Grande do Norte (89%), Bahia (87%) e Ceará (85%). Entre aqueles que já adotam este tipo de sistema ou pretende adotar no futuro, as motivações apontadas com maior frequência pela pesquisa são: promover recuperação de pastagens, reduzir o impacto ambiental e fazer rotação de culturas agrícolas.

 

Por Embrapa.

Gado em sistema integrado com floresta procura menos água

Gado em sistema integrado com floresta procura menos água

Resultados de pesquisa envolvendo o comportamento de bovinos revelam que animais criados em sistemas integrados com árvores frequentam menos os bebedouros em comparação com aqueles criados em sistemas convencionais, a pleno sol. A redução chega a 19%, de acordo com estudo desenvolvido na Embrapa Pecuária Sudeste (SP). Trata-se de uma das vantagens de sistemas de produção como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que vem sendo adotada gradativamente no País, chegando a quase 12 milhões de hectares.

Essa e outras vantagens da estratégia de produção ILPF são relatadas pelo pesquisador Alexandre Rossetto Garcia, que trabalha com biotecnologia da reprodução animal. Ele integra uma equipe multidisciplinar que vem comparando a criação de bovinos nos sistemas integrados e convencionais.

Rossetto é orientador da dissertação de mestrado de Alessandro Giro, da Universidade Federal do Pará (UFPA), médico veterinário que desenvolveu a pesquisa sobre o conforto térmico dos bovinos criados em ILPF. Durante a pesquisa, foram avaliados também o comportamento dos animais e a frequência de ida a bebedouros e cochos de sal mineral. O consumo de água em volume não foi diretamente medido. O trabalho de campo foi realizado de janeiro a junho de 2017 e a dissertação foi defendida em julho de 2018.

O trabalho foi feito por observação visual em campanhas mensais de dois dias consecutivos, ao longo de oito horas por dia. A equipe ficava a uma distância que não interferisse no comportamento dos animais. O estudo constatou que, no período da tarde, 87% dos animais que estavam expostos ao sol foram ao bebedouro. Na área sombreada, esse índice caiu para 63% no mesmo período. A diferença foi maior nos meses de janeiro a março, quando as temperaturas, em geral, são mais elevadas.

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Sistemas ILPF otimizam os recursos naturais

“Na área de ILPF, onde estão as árvores, buscamos também observar se os animais procuravam mais os espaços sombreados ou com sol. Medimos o tempo em minutos em que eles permaneceram no sol e na sombra. Constatamos que eles preferem a sombra, independentemente do turno”, afirmou Alessandro. Os animais que tiveram possibilidade de escolha entre sol e sombra passaram mais tempo pastejando, em ócio ou ruminando sob a copa das árvores.

O animal que sofre com o estresse pelo calor reduz a ingestão de alimentos. “Quando se abriga na sombra, a carga térmica sobre o animal diminui e ele tem menor necessidade de dissipar o calor para o meio. Isso reduz a ofegação e a transpiração, minimizando a demanda por ingestão de água”, explica Rossetto.

Quando precisa dissipar calor, o animal gasta energia em processos não relacionados à produção de leite e carne e à reprodução. Segundo o pesquisador da Embrapa, a ILPF permite o uso mais inteligente do recurso natural. O sombreamento reduz a temperatura ambiente em até 5ºC, o que é relevante para o conforto térmico e o bem-estar animal.

Precisão no monitoramento do gado

Rossetto explica ainda que a variação de 0,5 ºC na temperatura interna dos animais é bastante expressiva. Os termógrafos utilizados para medir as temperaturas de superfície dos bovinos são muito precisos, chegando a mensurar os centésimos de graus. Segundo ele, dois fatores influenciam o bem-estar animal: o microclima (conjunto de informações que pode ser avaliado com auxílio de estações meteorológicas) e as condições térmicas dos indivíduos nessas áreas.

Em estudos mais recentes, outros equipamentos têm ajudado a ciência a levantar dados para monitorar o gado. A Embrapa Pecuária Sudeste também consegue informações sobre comportamento animal graças a adaptações de técnicas disponíveis no mercado. Pesquisadores têm trabalhado em projetos de pecuária de precisão, utilizando um sistema computadorizado que identifica o deslocamento, o ócio e a ruminação a partir de colares com sensores acoplados.

Para que os equipamentos funcionem em áreas de pastagens para gado de corte, inclusive em ILPF, foi preciso instalar antenas para emitir os sinais sem fio e placas de energia solar para alimentar o sistema. As placas solares para captação de energia foram desenvolvidas pelo centro de pesquisa como forma de reduzir custos e viabilizar o uso de equipamentos a campo. Originalmente, a empresa privada que produziu o sistema computadorizado direcionou os equipamentos para monitorar gado de leite, que tem movimentações diárias mais previsíveis, como o momento das ordenhas.

De acordo com Edilson da Silva Guimarães, supervisor do Núcleo de Tecnologia da Informação, a Embrapa Pecuária Sudeste indicou a essa empresa adaptações para os sistemas de energia e de comunicação. “A transmissão de dados é feita de uma antena a outra, como se fosse uma malha. Sugerimos que mudassem o tipo de antena para melhorar a comunicação entre elas”, afirmou. Os dados coletados pelos sensores são enviados para uma central e podem ser acessados a distância, em computadores. Esses equipamentos foram adquiridos com recursos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com contrapartida da Embrapa.

O trabalho avaliou comportamento de fêmeas bovinas de corte em pastagens sem árvores com o sistema wireless de monitoramento e foi apresentado no III Workshop Internacional de Ambiência de Precisão, em 2017, em Campinas.

Pesquisas multidisciplinares

A equipe multidisciplinar da Embrapa Pecuária Sudeste estuda na ILPF, além do comportamento animal, a disponibilidade e qualidade de forrageiras, a fertilidade do solo, o desenvolvimento do componente arbóreo, a produtividade agrícola, o desempenho e eficiência reprodutiva do componente animal, além de algumas ações que investigam a emissão de metano e a microbiota do solo.

De acordo com Rossetto, o comportamento dos bovinos está muito relacionado à interação entre eles e à ocupação do espaço. Perguntas como “os animais aproveitam a sombra?” e “em que momentos do dia preferem as áreas sombreadas?” ajudam a ciência a entender melhor as diferenças entre os sistemas integrados com árvores e a criação exclusiva no sol.

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Conforto térmico e capacidade reprodutiva

A fertilidade de bovinos também pode ser afetada pela exposição a temperaturas elevadas e à radiação solar intensa. Sempre que a temperatura corpórea dos bovinos de corte ou de leite aumenta, uma série de consequências negativas se desencadeia. Quando um animal sente desconforto devido ao calor, ele passa a produzir uma quantidade maior de cortisol, hormônio diretamente ligado ao estresse. De acordo com Rossetto, o aumento da concentração desse hormônio faz com que os animais se alimentem menos, o que prejudica significativamente a produção. Em um animal de corte, o crescimento é menor e, consequentemente, a produtividade.

Do ponto de vista reprodutivo, os altos índices termocorpóreos representam prejuízos ao produtor. Por exemplo, quando a temperatura corpórea de um touro aumenta, a temperatura interna dos testículos também sobe. Isso faz com que a qualidade do sêmen reduza. Na fêmea, o processo é similar. Quando sua temperatura interna aumenta, os ovócitos produzidos são de baixa qualidade, impedindo, muitas vezes, a fecundação.

Caso ela ocorra, o embrião exige condições favoráveis para seu desenvolvimento e a temperatura ideal é uma delas. O feto é altamente sensível às oscilações térmicas e pode até morrer precocemente, sem que os profissionais que acompanham a gestação percebam. Ainda assim, em situações de estresse durante a fase gestacional, o desenvolvimento e a funcionalidade da placenta são prejudicados e o feto pode apresentar malformações.

As pesquisas sobre conforto térmico e eficiência reprodutiva foram feitas com novilhas e fêmeas adultas de corte em projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Rossetto está planejando a continuidade de pesquisas nessa linha com machos em idade reprodutiva, orçamento de mudança.

Por Embrapa