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Estudo inédito revela que a Amazônia está perdendo superfície de água

Estudo inédito revela que a Amazônia está perdendo superfície de água

Imagens do satélite Landsat coletadas durante 33 anos (1985 a 2017), novas tecnologias de processamento de dados em nuvens de computadores e uma análise dedicada de pesquisadores tornaram possível um novo olhar sobre a Amazônia, agora na perspectiva das transformações que vem ocorrendo nos corpos hídricos da região.

Assim como o Prodes nos mostra anualmente como está a supressão da vegetação natural dos ecossistemas terrestres, o novo estudo teve como objetivo avaliar as dinâmicas de transformação na superfície de água na Amazônia. Esse pode ser o pontapé inicial para um acompanhamento anual e regular sobre o estado dos corpos hídricos – rios, lagos, áreas úmidas inundáveis etc.

Mas os resultados obtidos não são positivos: A análise realizada pelo WWF-Brasil e Imazon, no âmbito do Projeto MapBiomas, e com apoio do Google Earth Engine, mostra que há uma tendência de redução da superfície hídrica na Amazônia brasileira. Em média foram perdidos 350 km2 de área coberta por ambientes aquáticos por ano.

O resultado da analise foi publicado na última terça-feira (19) em edição especial da revista científica Water (MDPI) sobre a situação dos recursos hídricos nas Américas, trazendo dados inéditos para o bioma. Esta foi a primeira vez que um estudo dessa magnitude foi realizado na escala do bioma Amazônia.

Vetores e impactos

Bernardo Caldas, analista do Programa de Ciências do WWF-Brasil e um dos autores do estudo, explica que existe uma correlação entre a perda de superfície de água na região Amazônica e a construção de hidrelétricas e desmatamento.

As intervenções humanas como a construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), açudes, barramentos de rios por grandes ou pequenas obras, a formação de lagos para piscicultura somadas, assim como as grandes obras de infraestrutura, afetam a dinâmica natural e geram alterações nos corpos hídricos e fluxos de água que impactam todo o sistema. A faixa onde estão mais evidenciadas essas múltiplas intervenções humanas coincidem com o chamado arco do desmatamento, na porção sul da Amazônia.

Área desmatada na Amazônia | Foto: iStock by Getty Images

O barramento de rios (interrupção de seu curso natural) afeta o pulso de inundação. Os efeitos cumulativos de muitos barramentos podem levar o curso d’ água a entrar em colapso e, assim, subsequentemente, interferir na dinâmica e serviços ecológicos da bacia hidrográfica como um todo.

As áreas mais afetadas com essa perda de superfície são as áreas de inundação (várzeas) e lagoas que se formam com o pulso de cheias e vazantes dos rios. A bacia Amazônica forma uma rede de ecossistemas aquáticos, diferenciados e interligados. Esses ecossistemas são fundamentais para a biodiversidade, a reprodução de peixes e outras espécies aquáticas.

“A perda desses habitats dinâmicos, que são influenciados pelo bombeamento natural e pelos fluxos de água, coloca em risco espécies como os botos, peixes, incluindo os ornamentais, os quelônios, entre muitas outras espécies que dependem desses locais para se reproduzirem. Ou seja, estamos perdendo os berçários da vida na Amazônia. Consequentemente, as comunidades que dependem dessa biodiversidade também serão afetadas”, explica Bernardo Caldas.

Desafios

Os principais desafios para a realização do estudo foram a escala e complexidade da região e o extenso período histórico analisado. Carlos Souza, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), explica que esse estudo só foi possível por conta dos recentes avanços técnicos para o processamento de grandes volumes de dados que estão disponíveis atualmente. “Utilizamos o Google Earth Engine e seus servidores de computadores espalhados pelo mundo para processar um volume impressionante de imagens de satélites. O que seria uma tarefa quase impossível há alguns anos atrás”, comenta.

Lei na íntegra no site da WWF-Brasil

Por: CicloVivo

Extração e uso de recursos naturais mais do que triplicou desde 1970

Extração e uso de recursos naturais mais do que triplicou desde 1970

O rápido crescimento da extração de materiais é o principal culpado pelas mudanças climáticas e pela perda de biodiversidade — um desafio que só vai piorar, a não ser que o mundo realize urgentemente uma reforma sistemática do uso de recursos, de acordo com novo relatório lançado na terça-feira (12/03) na Assembleia da ONU para o Meio Ambiente.

Panorama Global sobre Recursos de 2019, preparado pelo Painel Internacional sobre Recursos, examina as tendências em recursos naturais e os seus padrões correspondentes de consumo desde os anos 1970, com o intuito de apoiar formuladores de políticas em tomadas estratégicas de decisão e na transição para uma economia sustentável.

Ao longo das últimas cinco décadas, a população dobrou e o Produto Interno Bruto (PIB) global aumentou quatro vezes. O relatório mostra que, no mesmo período, a extração global anual de materiais passou de 27 bilhões de toneladas para 92 bilhões de toneladas (até 2017). Com as atuais tendências, esse volume deve dobrar de novo até 2060.

Maiores impactos

De acordo com o relatório, “a extração e o processamento de materiais, combustíveis e alimentos respondem por cerca de metade do total global de emissões de gases do efeito estufa e por mais de 90% da perda de biodiversidade e estresse hídrico”. Até 2010, mudanças no uso da terra haviam causado uma perda global de espécies estimada em 11%.

“O Panorama Global sobre Recursos mostra que estamos avançando sobre os recursos finitos do planeta como se não houvesse amanhã, causando mudanças climáticas e perda de biodiversidade ao longo do caminho”, afirmou Joyce Msuya, diretora-executiva interina da ONU Meio Ambiente. “Francamente, não haverá amanhã para muitas pessoas se não pararmos”, complementou.

Desde 2000, o crescimento nas taxas de extração acelerou para 3,2% por ano, o que foi impulsionado principalmente por grandes investimentos em infraestrutura e por padrões materiais de vida mais elevados em países em desenvolvimento e em economia de transição, especialmente na Ásia. Contudo, os países mais ricos ainda demandaram 9,8 toneladas de materiais por pessoa em 2017, um volume mobilizado de outras partes do mundo, o que também está impulsionando essa tendência.

Numa perspectiva mais específica, o uso de minérios de metal aumentou 2,7% por ano e os impactos associados na saúde humana e nas mudanças climáticas dobraram durante 2000-2015. Já o uso de combustíveis fósseis passou de 6 bilhões de toneladas em 1970 para 15 bilhões de toneladas em 2017. A biomassa aumentou de 9 bilhões de toneladas para 24 bilhões de toneladas — a maior parte está associada a alimentação, matérias-primas e energia.

E o que será do futuro?

Usando dados de tendências históricas, o relatório faz projeções para 2060. De 2015 até lá, espera-se que o uso de recursos naturais cresça 110%, levando a uma redução de mais de 10% das florestas e a uma redução de outros habitats, como as pradarias, em torno de 20%. As implicações para as mudanças climáticas são severas, uma vez que haveria um aumento de 43% nas emissões de gases do efeito estufa.

O relatório diz que, se o crescimento da economia e do consumo continuar nas taxas atuais, esforços bem maiores serão necessários para garantir que um crescimento econômico positivo não cause impactos ambientais negativos.

O relatório defende que a eficiência em recursos é essencial, mas não é suficiente por si só. “O que é necessário é um movimento de fluxos lineares para fluxos circulares, por meio de uma combinação de ciclos de vida mais longos para os produtos, design inteligente de produtos e padronização e reuso, reciclagem e remanufatura”, afirma.

Se as medidas recomendadas forem implementadas, isso poderia acelerar o crescimento econômico, superando os custos econômicos imediatos de mudar para modelos econômicos que sejam consistentes com a limitação do aquecimento global a 1,5º C nesse século.

Mina na Indonesia. Foto: iStock

“A modelagem realizada pelo Painel Internacional sobre Recursos mostra que, com a eficiência certa em recursos e a implementação de políticas sustentáveis de consumo e produção, o crescimento do uso global de recursos pode desacelerar em 25% até 2060, o produto interno bruto global poderia crescer 8% — especialmente nas nações de renda média e baixa — e as emissões de gases do efeito estufa poderiam ter queda de 90%, na comparação com projeções que seguem as tendências históricas”, afirmaram os copresidentes do Painel, Izabella Teixeira e Janez Potočnik, no prefácio do relatório.

O download do relatório Panorama Global sobre Recursos 2019: Recursos Naturais para o Futuro que Queremos pode ser feito aqui.

Por CicloVivo

Especialistas discutem desenvolvimento de gramíneas forrageiras adaptadas ao Semiárido brasileiro

Especialistas discutem desenvolvimento de gramíneas forrageiras adaptadas ao Semiárido brasileiro

A escassez de gramíneas forrageiras adaptadas ou desenvolvidas para o Semiárido brasileiro é um dos grandes problemas enfrentados pelos criadores na região e foi o tema abordado durante um ciclo de palestras promovido pela Embrapa Caprinos e Ovinos, no último dia 12, em Sobral (CE).  O evento contou com a participação de representantes da Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), pesquisadores, estudantes, criadores e técnicos, que discutiram sobre as expectativas em relação às pesquisas realizadas nessa área e a importância de uma aproximação com o mercado, a fim de que as soluções desenvolvidas atendam de fato às necessidades locais.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Cacilda Borges do Valle, as pesquisas que estão se iniciando no Semiárido são semelhantes àquelas que começaram há cerca de 30 anos na região Centro-Oeste e possibilitaram o desenvolvimento da pecuária no Cerrado. “Aqui o trabalho deve ser feito com material mais resistente para a produção com escassez de água, o importante é viabilizar a atividade pecuária na região. Com certeza vai ser possível pular algumas etapas e alcançar resultados mais rápidos do que nós tivemos no Centro-Oeste”, afirmou.

Cacilda ministrou palestra aos participantes do evento sobre o melhoramento genético de gramíneas forrageiras e ressaltou a importância das pastagens para a pecuária brasileira. “As pastagens são a base da nossa pecuária, que representa 31% do PIB do agronegócio no país, sendo que 3,2% de toda a exportação do Brasil em 2017 foi carne”. Para ela, o baixo custo de produção de carne no país faz do Brasil um ator importante no mercado internacional. No entanto, uma das grandes preocupações dos pesquisadores é a pouca variedade nas áreas de pastagens, o que as torna mais suscetíveis a problemas como pragas e doenças, por isso os programas de melhoramento genético buscam produzir novas alternativas para diversificar os pastos considerando a produtividade, sustentabilidade, valor nutritivo e a resistência a esses males. Os resultados, porém, devem aparecer a médio e longo prazo, entre 8 e 10 anos.

Parceria com o setor privado para viabilizar pesquisas

O mercado é grande e desperta interesse das multinacionais, mas os recursos governamentais aportados têm diminuído. Por isso, os especialista afirmam que é importante a formação de parcerias com o setor privado que possibilitem a realização das pesquisas. Parceira da Embrapa em diversos estudos, “a Unipasto atua identificando demandas do setor produtivo e disponibilizando recursos para agilizar os programas de melhoramento”, afirma o diretor executivo da Associação, Marcos Roveri, que apresentou palestra sobre aspectos importantes na produção de gramíneas forrageiras tropicais.

Ainda não existe um acordo formal entre a Unipasto e a Embrapa Caprinos e Ovinos e grande parte dos associados da entidade estão na região dos Cerrados, “mas existe a possibilidade de formalização de parceria na medida em que avancem os estudos para o desenvolvimento/adaptação de forrageiras para a região semiárida porque há uma demanda no mercado”, conclui Roveri.

Desafios para os programas de melhoramento vegetal

A pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos, Luice Bueno, que coordenou o evento, encerrou o ciclo de palestras falando sobre os desafios enfrentados pelos programas de melhoramento genético no Semiárido, enfatizando a importância de trabalhar de forma planejada para aproveitar o período chuvoso. Destacou, ainda, a capacidade de resiliência das espécies existentes na região e as particularidades locais como o alto custo e a baixa produtividade dos sistemas de criação.

A programação foi finalizada com um debate com os representantes do setor produtivo presentes, com uma discussão sobre a dificuldade de acesso às sementes, a adaptação de forrageiras às mudanças climáticas e a integração lavoura-pecuária, que de acordo com Marcos Roveri é o que está viabilizando a atividade no bioma Cerrado. “É importante pensar no desenvolvimento de cultivares que se adaptem a sistemas integrados com outras culturas e que suportem o sombreamento, por exemplo”, explicou. Para ele, é essencial entender o cenário da região  e a demanda dos criadores locais para desenvolver forrageiras que se adequem e atendam de fato às necessidades existentes.

Por: Embrapa

ONU institui “Década da Restauração de Ecossistemas”

ONU institui “Década da Restauração de Ecossistemas”

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período 2021-2030 como a Década da ONU da Restauração de Ecossistemas. A nova data é uma oportunidade única para a criação de empregos, segurança alimentar, enfrentamento da mudança do clima, conservação da biodiversidade e fornecimento de água. Duas agências da ONU – ONU Meio Ambiente e FAO – lideram a implementação da Década.

O anúncio antecede a realização da Quarta Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, que é o principal fórum global para tomadas de decisão em questões ambientais. Entre os dias 11 a 15 de março, ministros de meio ambiente e representantes do setor privado, governos, sociedade civil e academia se reunirão em Nairóbi, no Quênia, para discutir os problemas mais urgentes do nosso tempo – e os ecossistemas estarão no topo da agenda.

“Estamos satisfeitos que a nossa visão para uma Década dedicada ao tema se tornou realidade. Precisamos promover um programa de restauração agressivo que construa resiliência, reduza a vulnerabilidade e aumente a capacidade dos sistemas de se adaptar às ameaças diárias e eventos extremos”, afirmou Lina Pohl, ministra do Meio Ambiente e Recursos Naturais de El Salvador.

Apesar de fornecerem inúmeros serviços essenciais, como a provisão de água doce e alimentos, os ecossistemas-chave estão diminuindo rapidamente. A degradação dos ambientes terrestres e marinhos já compromete o bem-estar de 3,2 bilhões de pessoas e custa cerca de 10% da renda global anual em perda de espécies e serviços ecossistêmicos.

Em contrapartida, a restauração de 350 milhões de hectares de terras degradadas até 2030 pode gerar até nove trilhões de dólares em serviços ecossistêmicos e remover de 13 a 26 gigatons adicionais de gases do efeito estufa da atmosfera.

“A Década das Nações Unidas para a Restauração dos Ecossistemas ajudará os países a enfrentar os impactos da mudança do clima e da perda da biodiversidade”, disse José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

“Os ecossistemas estão sendo degradados a uma taxa sem precedentes. Nossos sistemas alimentares globais e a subsistência de milhões de pessoas dependem de todos nós trabalhando juntos para restaurar ecossistemas saudáveis e sustentáveis para o presente e o futuro”, acrescentou Graziano.

“A ONU Meio Ambiente e a FAO estão honradas em liderar a implementação da Década com nossos parceiros. A degradação dos nossos ecossistemas tem causado um impacto devastador nas pessoas e no meio ambiente. Estamos animados com o fato de que o impulso para restaurar nosso ambiente natural vem ganhando ritmo, porque a natureza é nossa melhor aposta para enfrentar as mudanças do clima e garantir o futuro”, afirmou Joyce Msuya, diretora-executiva interina da ONU Meio Ambiente.

Apelo à ação global

Atualmente, cerca de 20% da superfície do planeta apresenta declínio na produtividade ligada à erosão, ao esgotamento e à poluição em todas as partes do mundo. Até 2050, a degradação e as mudanças climáticas poderão reduzir o rendimento das colheitas em 10% a nível mundial e até 50% em certas regiões.

A Década, um apelo à ação global, reunirá apoio político, pesquisa científica e fortalecimento financeiro para alavancar iniciativas-piloto bem-sucedidas para restaurar milhões de hectares. Pesquisas mostram que mais de 2 bilhões de hectares de paisagens desmatadas e degradadas em todo o mundo oferecem potencial para restauração.

A Década acelerará as metas existentes de restauração global – como o Desafio de Bonn, que visa restaurar 350 milhões de hectares de ecossistemas degradados até 2030, uma área quase do tamanho da Índia.

Atualmente, 57 países, governos subnacionais e organizações privadas se comprometeram a contribuir com mais de 170 milhões de hectares restaurados. Esse esforço se baseia em esforços regionais, como a Iniciativa 20×20 na América Latina, que visa restaurar 20 milhões de hectares de terras degradadas até 2020, e a Iniciativa AFR100 de Restauração da Paisagem Africana de Floresta, cujo objetivo é restaurar 100 milhões de hectares de terras degradadas até 2030.

A restauração dos ecossistemas é um processo que visa reverter a degradação de ambientes como paisagens, lagos e oceanos, recuperando suas funcionalidades ecológicas, ou seja, melhorando a produtividade e capacidade dos ecossistemas para atender às necessidades da sociedade. Isso pode ser feito, por exemplo, ao permitir a regeneração natural de ecossistemas superexplorados ou pelo plantio de árvores.

A restauração dos ecossistemas é fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, os ODS, principalmente aqueles sobre mudança do clima, erradicação da pobreza, segurança alimentar e conservação da água e da biodiversidade. É também um pilar das convenções ambientais internacionais, como a Convenção de Ramsar sobre as zonas úmidas e as Convenções do Rio sobre biodiversidade, desertificação e mudança climática.

Por: ClicoVivo

Cocô de anta ajuda a regenerar florestas degradadas na Amazônia

Cocô de anta ajuda a regenerar florestas degradadas na Amazônia

Um novo estudo publicado por cientistas ligados ao IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) mostra como as antas são importantes para a regeneração de florestas degradadas na Amazônia. O maior herbívoro da América do Sul anda muito, come muito – e faz muito cocô, especialmente nas áreas com vegetação menos densa.

Foi o que os pesquisadores viram na Fazenda Tanguro, em Mato Grosso, na transição entre Amazônia e Cerrado, onde coletaram amostras de cocô, além de vídeos dos animais: quase 130 mil sementes retiradas de 163 amostras espalhadas em 150 hectares foram catalogadas em 24 espécies. Mas a principal contribuição das antas na regeneração, além de seu apetite voraz e do cardápio diversificado, foi a preferência por florestas degradadas para depositar as fezes.

Numa floresta com queimadas anuais, os cientistas estimaram 11.057 sementes por hectare/ano, enquanto na área com queimadas a cada três anos a relação era de 8.587 sementes por ha/ano e, na floresta intocada, de somente 2.950 sementes por ha/ano.

O grupo defende a hipótese que as antas usam mais as florestas degradadas devido à presença de plantas com folhas mais palatáveis. “Mas, quando se trata de frutos consumidos, que é o que interessa para dispersão de sementes, vimos que elas dispersam mais as espécies de estágios tardios da sucessão. Resumindo, elas têm um papel importante tanto na dispersão de espécies iniciais quanto tardias, contribuindo para o processo de regeneração como um todo”, explica o ecólogo Lucas Paolucci, principal autor do artigo científico publicado pela revista Biotropica.

O papel das antas como dispersoras de sementes fora medido previamente em outras regiões, como na mata atlântica, mas nunca numa área degradada. “Muitos animais cumprem esse papel, e por isso é importante protegê-los e permitir seu trânsito”, diz Paolucci. “Os macacos dispersam até mais espécies e em maior quantidade. Mas as antas conseguem dispersar sementes maiores e em florestas degradadas, além de passar por áreas com pasto e plantações, o que os macacos não fazem. Isso permite o fluxo de espécies entre florestas fragmentadas.”

Apetite

As antas podem chegar a 300 quilos e são os últimos representantes da megafauna na Amazônia, grupo de grandes animais cuja maioria foi extinta no fim do Pleistoceno (época geológica que se estendeu de 1,8 milhão a 11 mil anos atrás), como o mamute e a preguiça-gigante.

Além de um apetite voraz, a boca avantajada também permite dispersar sementes maiores do que outros animais – ainda que, na coleta feita em Mato Grosso, elas tenham demonstrado especial apreço pela Bellucia grossularioides, conhecida como goiaba-de-anta, cujas sementes têm meio centímetro, ou menos.

A B. grossularioides é uma árvore pequena, porém de clímax, quando a floresta atinge seu estágio mais maduro, assim como o jatobá (Hymenaea courbaril), a mamorana-de-terra-firme (Eritheca globosa), a murici-da-mata (Bysonima crispa), a fava-orelha (Enterolobium schomburgkii), além de outras espécies encontradas nas fezes das antas.

Quatro das espécies catalogadas pelos cientistas não foram encontradas nos 150 hectares onde trabalharam, o que mostra outra característica das antas: sua imensa capacidade de deslocamento. As antas se movimentam até 20 quilômetros em linha reta, e ocupam uma área grande, entre 220 a 470 hectare. “Independentemente de onde vieram, essas sementes contribuem para o aumento da diversidade das áreas degradadas”, diz Paolucci.

Veja aqui o artigo científico (em inglês).

Por CicloVivo