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Processo de registro do Nematec, principal forma de combate à vespa-da-madeira, é concluído

Processo de registro do Nematec, principal forma de combate à vespa-da-madeira, é concluído

Foto: Francisco Santana

A principal forma de combate à vespa-da-madeira, principal praga dos plantios de pínus no país, agora tem registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O nematoide Deladenus siricidicola, agente de controle biológico da vespa-da-madeira, passa a atender pelo nome comercial de Nematec. O processo de registro levou seis anos e passou por diversas fases de análise, inclusive com registro de marca e identidade junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).

A concessão do registro do produto é feita pelo MAPA, que trabalha com a ANVISA e o IBAMA em análises técnicas e específicas para conceder o registro. “O registro de um produto reconhece a adequação do mesmo à legislação vigente no país”, explica a pesquisadora Susete Chiarello Penteado, da Embrapa Florestas. “Isso garante ao usuário que o produto atende aos critérios estabelecidos em leis e à regulamentação específica de cada órgão envolvido”, completa. Segundo Marcelo Bressan, Auditor Fiscal Federal Agropecuário do Mapa, “a ação da Embrapa para registrar o produto demonstra a seriedade do trabalho em cumprimento à legislação brasileira, além de ser um ponto importante para ajudar a difundir a tecnologia, que agora possui rótulo, bula com indicação de uso, entre outros requisitos importantes”.

Por se tratar de um agente de controlo biológico, o Deladenus siricidicola recebeu a recomendação de ser registrado via “Agricultura Orgânica – Produtos Fitossanitários com Uso Aprovado para a Agricultura Orgânica”.  Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, “os agrotóxicos ou afins que tiverem em sua composição apenas produtos permitidos na legislação de orgânicos, recebem, após o devido registro, a denominação de “produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica”. Por serem considerados produtos de baixo impacto ambiental e também de baixa toxicidade, a legislação foi idealizada no intuito de acelerar o seu registro sem deixar de lado a preocupação com a saúde, o meio ambiente e a eficiência agronômica”. O Nematec é o primeiro produto com este registro para uso do Deladenus siricidicola. “O registro confere maior segurança técnica e jurídica aos usuários do produto”, ressalta Susete.

O nematoide Deladenus siricidicola foi incluído no rol de “Agrotóxicos com Monografias Autorizadas”, que indica que o ingrediente ativo passou pela avaliação regulamentar e está apto para uso agrícola, domissanitário, não agrícola, em ambientes aquáticos ou mesmo como preservante de madeira. A Monografia indica ainda informações como os nomes comum e químico, a classe de uso, a classificação toxicológica e as culturas para as quais os ingredientes ativos encontram-se autorizados, com seus respectivos limites máximos de resíduo.

A vespa-da-madeira é a principal praga de plantios de pinus no país. Um amplo programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) é conduzido pela Embrapa Florestas e pelo Funcema (Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais), em uma parceria público-privada que acontece desde 1988, ano em que a vespa-da-madeira foi introduzida no país. “O sucesso deste programa faz com que a praga esteja sob controle e evite um prejuízo de cerca de U$ 25 milhões anuais ao setor de base florestal”, explica o Chefe-geral da Embrapa Florestas, Edson Tadeu Iede. Um dos pilares do MIP é o uso do nematoide Deladenus siricidicola como agente de controle biológico. “Chegamos a uma média de 70% de parasitismo da praga e, em alguns locais, a até 100%. O uso do Nematec é extremamente eficaz, além de não prejudicar o meio ambiente”, atesta.

Para o registro do Nematec, a Embrapa Florestas desenvolveu uma série de ações, junto aos órgãos do estado do Paraná, que resultaram em: a) Certificação de Registro à Embrapa Florestas, de fabricante e formulador do agente de controle biológico – nematoide Deladenus siricidicola, emitido pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), bem como na Autorização da ADAPAR para uso e circulação do produto NEMATEC no Estado do Paraná; b) Declaração de Dispensa de Licenciamento Ambiental Estadual (DLAE) do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), ao laboratório de entomologia florestal da Embrapa Florestas (fabricante/formulador da produção do nematoide Deladenus siricidicola). O laboratório também passou a fazer parte do Sistema de Gestão da Qualidade da Embrapa. “Foi uma ampla articulação entre atores internos e externos à Unidade”, ressalta Regina Siewert Rodrigues, analista da Embrapa Florestas que coordenou todo processo de registro, incluindo as ações de propriedade intelectual e de negócios do produto NEMATEC.  “Em todas as fases deste processo fizemos importantes adequações em procedimentos, que trouxeram benefícios ao modo de produzir e disponibilizar o Nematec”, finaliza.

Por Embrapa Florestas.

Satélite brasileiro de alta resolução vai aprimorar monitoramento agrícola

Satélite brasileiro de alta resolução vai aprimorar monitoramento agrícola

O mosaico é um retrato da mesma área de 9 km² do município de Artur Nogueira, SP, em imagens com três resoluções espaciais diferentes. Da esquerda para a direita, a primeira é do satélite Landsat 8, com pixel de 30 m; a segunda, do Sentinel 2, com 10 m; a terceira vem dos sensores de alta resolução do World View 3, com pixel de 0,30 m.

Quanto tempo você gasta para chegar ao trabalho? Talvez o tempo que você leva entre sair de casa e registrar o ponto seja o suficiente para o satélite brasileiro Carponis-1 dar uma volta completa ao redor da Terra. Quando estiver em órbita, ele gastará no máximo 1h30 nesse percurso. Mais do que dar um passeio pelo espaço, o equipamento registrará imagens aqui de baixo com detalhes que podem chegar a 70 cm. Será um satélite brasileiro de alta resolução.

O projeto está a cargo da Força Aérea Brasileira (FAB), mas não terá apenas aplicação militar. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) será operadora civil do equipamento e empregará as imagens espaciais nos estudos da produção de alimentos, fibras e energia no País.

Embrapa Territorial (SP) utiliza imagens de satélites em seus trabalhos há quase 30 anos. No entanto, a dependência de imagens de alta resolução adquiridas por satélites controlados por outros países impõe limitações, além de custos elevados. Normalmente, trabalha-se com as imagens que estão disponíveis nos catálogos das empresas que as comercializam. Outra possibilidade é encomendar os registros, porém, isso demanda tempo entre a solicitação e a entrega.

A operação de um satélite pelo Brasil possibilitará mais autonomia e rapidez. “Poderemos programar e direcionar o satélite para aquisição de imagens de alvos específicos. Isso evitará a compra de imagens obsoletas e otimizará o tempo de resposta no recebimento dessas imagens”, observa a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Territorial, Lucíola Magalhães. Ela também é membro do Grupo de Assessoramento da Comissão de Coordenação de Implantação de Sistema Espaciais (CCISE), colegiado que articula o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE).

 

Projeto Carponis-1

O nome é formado pela junção das palavras gregas “karpos”, que significa fruto; e “ornis”, pássaro. O Carponis-1 faz parte das constelações de satélites do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), que integra o Programa Espacial Brasileiro. A iniciativa é gerenciada pela Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais (CCISE), da Força Aérea Brasileira, e está alinhada à Estratégia Nacional de Defesa para o setor espacial. O PESE prevê a implantação de uma constelação de satélites, além da infraestrutura de controle e de operação. O Carponis-1 será o primeiro, com previsão para lançamento em 2022.

Melhor monitoramento de ILPF e aquicultura

O diferencial do Carponis-1 está na alta resolução espacial e temporal. A previsão é que os sensores acoplados ao satélite gerem imagens nítidas abaixo de um metro e com intervalo de três a cinco dias. Hoje, o Brasil opera apenas um sistema espacial, em parceria com a China. Mas a melhor resolução obtida a partir dele é de cinco metros e intervalo de até 26 dias entre os registros.

Para se ter uma ideia do ganho com a escala submétrica, nas imagens com resolução de quatro metros, cada pixel equivale a uma área de 16 m². Já as de um metro de resolução refletem 1 m² por pixel. Com imagens melhores e mais facilmente disponíveis, a Embrapa Territorial espera avançar, por exemplo, no monitoramento das áreas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), sistema produtivo em expansão no País. “É muito difícil com satélites de média resolução conseguir identificá-las. Mesmo com os de alta resolução, esse mapeamento não vai ser uma tarefa simples”, adianta Magalhães.

Os trabalhos com aquicultura também seriam beneficiados com um satélite brasileiro de alta resolução. Atualmente, a Embrapa está desenvolvendo um sistema de inteligência territorial estratégico para o segmento. O primeiro passo é identificar, em imagens espaciais, a localização dos tanques escavados para criação de animais aquáticos. “Quando você trabalha com imagens de média ou baixa resolução, é difícil ter certeza de que determinado ponto corresponde a um tanque para aquicultura, tendo em vista os diferentes tipos existentes”, conta a chefe-adjunta. A expectativa é que, com material de melhor definição, o trabalho ganhe assertividade.

Intervalos menores de captação

Os pesquisadores também esperam incremento nos estudos pela geração de material com menor intervalo de tempo. O maior ganho é a chance de obtenção de imagens livres de nuvens, um dos principais fatores que comprometem a visibilidade em regiões de alta umidade, como na costa brasileira e região amazônica. Na agricultura, fazer imagens com mais frequência torna-se ainda mais importante, já que as principais fases de desenvolvimento das culturas ocorrem justamente no período de chuvas.

O tempo entre a captura da imagem em território nacional e o seu download pelo usuário deve ser menor do que duas horas, adianta o tenente Bruno Mattos, coordenador do projeto Carponis-1. Se a área de interesse estiver fora do Brasil, esse intervalo aumenta, mas, ainda assim, não deve chegar a 12 horas.

O tipo de sensor embarcado no satélite também é determinante para os trabalhos em agricultura. Além das bandas que geram a fotografia em cores dos terrenos (vermelho, verde e azul – RGB), “é indispensável, no mínimo, uma banda no infravermelho próximo (NIR)”, diz Magalhães. A presença dela é o primeiro passo para utilizar as imagens em agricultura de precisão. Com esse recurso, além da interpretação visual, os técnicos contam com informações espectrais que podem dar indicações sobre a saúde da plantação em uma determinada área, por exemplo. Identificação de deficiências nutricionais e estimativas de produtividade são outras aplicações. “Quanto mais bandas espectrais, mais informações conseguimos sobre um objeto terrestre”, explica.

Histórico

O primeiro passo para a parceria entre a Embrapa e a FAB na operação do Carponis-1 foi dado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com a apresentação do projeto para gestores da pasta. Em agosto, houve a assinatura de um memorando de entendimento entre as instituições. Na época, o chefe da Área de Planejamentos Operacionais do Estado-Maior da Aeronáutica, major-brigadeiro Jefson Borges, explicou que o interesse das Forças Armadas na parceria era devido ao avançado estágio em que a Embrapa se encontra na área de monitoramento por satélite. O secretário-executivo do Mapa, por sua vez, disse que o ministério tem interesse em projetos de inteligência territorial, fundamentais para o desenvolvimento tecnológico e de monitoramento do setor agropecuário nacional.

O chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, lembra o papel das imagens espaciais no monitoramento ambiental do País, que mantém mais de 1.800 unidades de conservação. Para ele, o acompanhamento da ocupação efetiva de áreas do território nacional, por meio de satélites, é fundamental, mas tem representado gastos elevados, em função da necessidade da compra de imagens.

A organização militar espera que a operação de um satélite de alta resolução também traga ganhos para a indústria nacional. “No curto prazo, empresas nacionais serão subcontratadas para proverem produtos e serviços relacionados à implantação do Sistema Carponis-1. No médio e longo prazo, com a demanda nacional por imagens de satélites bem estabelecida, tais empresas serão contratadas diretamente para o desenvolvimento de satélites nacionais, os quais complementarão e substituirão as capacidades do Sistema Carponis-1”, prevê o tenente Bruno Mattos, da FAB.

A comunidade acadêmica também deve ser beneficiada com a facilidade de acesso a imagens espaciais de alta resolução.

 

Com informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Por Embrapa. 

Jovem cria solução para captar água em Caculé e abre chance de reflexões sobre desenvolvimento local

Jovem cria solução para captar água em Caculé e abre chance de reflexões sobre desenvolvimento local

Sandro Lúcio Nascimento Rocha, 16 anos, foi um dos vencedores na categoria Ensino Médio do Prêmio Jovem Cientista — Foto: Arquivo Pessoal

Sandro Lúcio Nascimento Rocha, 16 anos, foi um dos vencedores na categoria Ensino Médio do Prêmio Jovem Cientista — Foto: Arquivo Pessoal

Filho dos agricultores Luciana e João e irmão de Henrique, o estudante Sandro Lúcio Nascimento Rocha, 16 anos, está se preparando para sair de sua cidade natal, Caculé, no interior da Bahia, e pegar um avião até Brasília. Será sua primeira viagem aérea. No Distrito Federal, ele vai ser recebido pela equipe da 28ª edição do Prêmio Jovem Cientista , pois foi um dos vencedores na categoria Ensino Médio.

Quando eu soube da premiação e li sobre o projeto defendido por Sandro, fiquei com vontade de conversar com o jovem e trazer aqui algumas de suas reflexões. Já me explico.

É que Sandro, que frequenta as aulas do Ensino Médio no Colégio Estadual Norberto Fernandes e foi orientado pela professora Edjane Alexandre Costa Soares, se deixou parar para pensar num jeito de solucionar o problema de escassez de água na região onde mora – Caculé fica no semiárido e cada vez chove menos por lá. E imaginou uma cisterna. Mas não uma cisterna parecida com as cisternas rurais que são construídas e distribuídas em parceria com o governo e a organização Articulação do Semiárido (ASA). Sandro pensou num jeito mais ecológico de construir um reservatório para reter a água da chuva e poder utilizá-la para plantas , banheiros, lavagem de louças.

Um segundo momento de observação fez Sandro perceber que em sua escola há um enorme uso e descarte de pets. Na área rural de Caculé, onde mora e estuda, o caminhão do lixo não recolhe os descartáveis. Para se livrar do problema, os cidadãos têm o péssimo hábito de juntá-las e queimá-las, o que provoca uma fumaça desagradável e polui o ambiente. Foi aí que Sandro imaginou fazer cisternas, substituindo os tijolos por garrafas pet. Um jeito de solucionar dois problemas de uma só tacada.

Ainda assim, o cimento que teria que ser usado para juntar e colar as pets, como se sabe, produz impactos ambientais relevantes em sua fabricação. Para fugir disso, o rapaz imaginou que poderia utilizar como “liga” em sua cisterna um cimento feito a partir da cinza da fibra de côco, fruto que abunda em sua região.

E dessa forma, juntando o útil ao ecologicamente correto, Sandro também puxou a esteira de outras questões muito relevantes que não devem ficar de fora dos debates sobre mudanças climáticas e a necessidade de se criar novos paradigmas de produção e consumo. O rapaz pensou e resolveu um problema de sua localidade, usando produtos da região. Claro que não pode ser feito em grande escala, mas se o poder público tivesse um olhar cuidadoso para a solução encontrada por Sandro, poderia viabilizar em outras frentes. Por conta da visibilidade que teve seu projeto, o diretor da escola disse que poderá viabilizá-lo. E Sandro sonha: quem sabe empresas também se interessam, ou mesmo algumas casas residenciais da região? São passos que podem ser dados para se conseguir o desenvolvimento local.

Minha conversa com Sandro teve que ser através do whatsapp porque estava chovendo bastante em Caculé, o que dificulta as comunicações por telefone. Sandro é um garoto que se preocupa com as questões ambientais e se ressente de que outros jovens de sua idade não tenham, como ele, foco nas mudanças do clima que, no fim das contas, vão tornar a vida deles mais complicada.

“Às vezes o jovem fica muito acomodado com o que está acontecendo e não tem senso crítico. Acho muito importante para a juventude, como um todo, se unir em prol do meio ambiente”, disse ele.

Quis saber dele como é viver numa cidade tão pequena, de 22 mil habitantes e tão distante dos grandes centros (a cidade fica a mais de 600 quilômetros da capital, Salvador). Sandro gosta de sua cidade, mas queria muito que ela tivesse um recolhimento de lixo adequado, menos poluição. E adoraria poder seguir carreira, continuar estudando perto dos pais e da avó. Mas em Caculé não existe a possibilidade de o rapaz cursar a faculdade de Medicina, como pretende.

“Quero poder estudar os impactos da poluição na saúde humana, fazer projetos paralelos sobre a questão do meio ambiente. Queria poder estudar aqui. Mas vou sempre voltar para as minhas raízes, para onde eu nasci”, disse ele.

Convidei Sandro para refletir e encontrar alguns sites que pensam sobre desenvolvimento local, uma espécie de mudança de paradigma necessária diante de tantas privações provocadas por um sistema econômico que implica diretamente em desigualdade. Há pessoas pensando a respeito, por exemplo, entre os membros da organização “New Economics Foundation”, que prega uma “economia para as pessoas, pelas pessoas”.

As Nações Unidas também têm um programa específico para financiar desenvolvimento local, considerando que mais da metade da população dos 47 países menos desenvolvidos do mundo vive com menos de US $ 1,25 por dia e bilhões de pessoas ainda não têm os serviços e o emprego necessários para desfrutar de uma qualidade de vida decente. Mas ali há problemas de distribuição do financiamento.

O desafio está posto. As mudanças climáticas nos exigem esforços para buscar uma vida mais saudável diante de tantas ameaças, e jovens como Sandro podem transformar o risco em oportunidade. A chance de pensar meios para resistir é não negar o tamanho do problema, é fazer contato com uma realidade que se apresenta mais difícil, mas não impossível.

Espera-se dos líderes de nações uma visão sistêmica para o problema do aquecimento global, estratégias econômicas que visem a pensar o desenvolvimento com outras lentes, para se pavimentar o caminho da mudança para uma vida com menos dependência dos combustíveis fósseis. Espera-se dos líderes empresariais que acompanhem este ritmo e invistam, seriamente, em tecnologias que possam diminuir seu impacto, além de uma revisão dos limites de produção.

Mas se cada região puder ter um olhar mais cuidadoso no sentido de criar soluções para seus próprios problemas, já se conseguirá caminhar bastante no sentido de melhorar a qualidade de vida. Neste sentido, Sandro tem muito a colaborar.

Por G1 Natureza.

Gado em sistema integrado com floresta procura menos água

Gado em sistema integrado com floresta procura menos água

Resultados de pesquisa envolvendo o comportamento de bovinos revelam que animais criados em sistemas integrados com árvores frequentam menos os bebedouros em comparação com aqueles criados em sistemas convencionais, a pleno sol. A redução chega a 19%, de acordo com estudo desenvolvido na Embrapa Pecuária Sudeste (SP). Trata-se de uma das vantagens de sistemas de produção como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que vem sendo adotada gradativamente no País, chegando a quase 12 milhões de hectares.

Essa e outras vantagens da estratégia de produção ILPF são relatadas pelo pesquisador Alexandre Rossetto Garcia, que trabalha com biotecnologia da reprodução animal. Ele integra uma equipe multidisciplinar que vem comparando a criação de bovinos nos sistemas integrados e convencionais.

Rossetto é orientador da dissertação de mestrado de Alessandro Giro, da Universidade Federal do Pará (UFPA), médico veterinário que desenvolveu a pesquisa sobre o conforto térmico dos bovinos criados em ILPF. Durante a pesquisa, foram avaliados também o comportamento dos animais e a frequência de ida a bebedouros e cochos de sal mineral. O consumo de água em volume não foi diretamente medido. O trabalho de campo foi realizado de janeiro a junho de 2017 e a dissertação foi defendida em julho de 2018.

O trabalho foi feito por observação visual em campanhas mensais de dois dias consecutivos, ao longo de oito horas por dia. A equipe ficava a uma distância que não interferisse no comportamento dos animais. O estudo constatou que, no período da tarde, 87% dos animais que estavam expostos ao sol foram ao bebedouro. Na área sombreada, esse índice caiu para 63% no mesmo período. A diferença foi maior nos meses de janeiro a março, quando as temperaturas, em geral, são mais elevadas.

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Sistemas ILPF otimizam os recursos naturais

“Na área de ILPF, onde estão as árvores, buscamos também observar se os animais procuravam mais os espaços sombreados ou com sol. Medimos o tempo em minutos em que eles permaneceram no sol e na sombra. Constatamos que eles preferem a sombra, independentemente do turno”, afirmou Alessandro. Os animais que tiveram possibilidade de escolha entre sol e sombra passaram mais tempo pastejando, em ócio ou ruminando sob a copa das árvores.

O animal que sofre com o estresse pelo calor reduz a ingestão de alimentos. “Quando se abriga na sombra, a carga térmica sobre o animal diminui e ele tem menor necessidade de dissipar o calor para o meio. Isso reduz a ofegação e a transpiração, minimizando a demanda por ingestão de água”, explica Rossetto.

Quando precisa dissipar calor, o animal gasta energia em processos não relacionados à produção de leite e carne e à reprodução. Segundo o pesquisador da Embrapa, a ILPF permite o uso mais inteligente do recurso natural. O sombreamento reduz a temperatura ambiente em até 5ºC, o que é relevante para o conforto térmico e o bem-estar animal.

Precisão no monitoramento do gado

Rossetto explica ainda que a variação de 0,5 ºC na temperatura interna dos animais é bastante expressiva. Os termógrafos utilizados para medir as temperaturas de superfície dos bovinos são muito precisos, chegando a mensurar os centésimos de graus. Segundo ele, dois fatores influenciam o bem-estar animal: o microclima (conjunto de informações que pode ser avaliado com auxílio de estações meteorológicas) e as condições térmicas dos indivíduos nessas áreas.

Em estudos mais recentes, outros equipamentos têm ajudado a ciência a levantar dados para monitorar o gado. A Embrapa Pecuária Sudeste também consegue informações sobre comportamento animal graças a adaptações de técnicas disponíveis no mercado. Pesquisadores têm trabalhado em projetos de pecuária de precisão, utilizando um sistema computadorizado que identifica o deslocamento, o ócio e a ruminação a partir de colares com sensores acoplados.

Para que os equipamentos funcionem em áreas de pastagens para gado de corte, inclusive em ILPF, foi preciso instalar antenas para emitir os sinais sem fio e placas de energia solar para alimentar o sistema. As placas solares para captação de energia foram desenvolvidas pelo centro de pesquisa como forma de reduzir custos e viabilizar o uso de equipamentos a campo. Originalmente, a empresa privada que produziu o sistema computadorizado direcionou os equipamentos para monitorar gado de leite, que tem movimentações diárias mais previsíveis, como o momento das ordenhas.

De acordo com Edilson da Silva Guimarães, supervisor do Núcleo de Tecnologia da Informação, a Embrapa Pecuária Sudeste indicou a essa empresa adaptações para os sistemas de energia e de comunicação. “A transmissão de dados é feita de uma antena a outra, como se fosse uma malha. Sugerimos que mudassem o tipo de antena para melhorar a comunicação entre elas”, afirmou. Os dados coletados pelos sensores são enviados para uma central e podem ser acessados a distância, em computadores. Esses equipamentos foram adquiridos com recursos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com contrapartida da Embrapa.

O trabalho avaliou comportamento de fêmeas bovinas de corte em pastagens sem árvores com o sistema wireless de monitoramento e foi apresentado no III Workshop Internacional de Ambiência de Precisão, em 2017, em Campinas.

Pesquisas multidisciplinares

A equipe multidisciplinar da Embrapa Pecuária Sudeste estuda na ILPF, além do comportamento animal, a disponibilidade e qualidade de forrageiras, a fertilidade do solo, o desenvolvimento do componente arbóreo, a produtividade agrícola, o desempenho e eficiência reprodutiva do componente animal, além de algumas ações que investigam a emissão de metano e a microbiota do solo.

De acordo com Rossetto, o comportamento dos bovinos está muito relacionado à interação entre eles e à ocupação do espaço. Perguntas como “os animais aproveitam a sombra?” e “em que momentos do dia preferem as áreas sombreadas?” ajudam a ciência a entender melhor as diferenças entre os sistemas integrados com árvores e a criação exclusiva no sol.

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Conforto térmico e capacidade reprodutiva

A fertilidade de bovinos também pode ser afetada pela exposição a temperaturas elevadas e à radiação solar intensa. Sempre que a temperatura corpórea dos bovinos de corte ou de leite aumenta, uma série de consequências negativas se desencadeia. Quando um animal sente desconforto devido ao calor, ele passa a produzir uma quantidade maior de cortisol, hormônio diretamente ligado ao estresse. De acordo com Rossetto, o aumento da concentração desse hormônio faz com que os animais se alimentem menos, o que prejudica significativamente a produção. Em um animal de corte, o crescimento é menor e, consequentemente, a produtividade.

Do ponto de vista reprodutivo, os altos índices termocorpóreos representam prejuízos ao produtor. Por exemplo, quando a temperatura corpórea de um touro aumenta, a temperatura interna dos testículos também sobe. Isso faz com que a qualidade do sêmen reduza. Na fêmea, o processo é similar. Quando sua temperatura interna aumenta, os ovócitos produzidos são de baixa qualidade, impedindo, muitas vezes, a fecundação.

Caso ela ocorra, o embrião exige condições favoráveis para seu desenvolvimento e a temperatura ideal é uma delas. O feto é altamente sensível às oscilações térmicas e pode até morrer precocemente, sem que os profissionais que acompanham a gestação percebam. Ainda assim, em situações de estresse durante a fase gestacional, o desenvolvimento e a funcionalidade da placenta são prejudicados e o feto pode apresentar malformações.

As pesquisas sobre conforto térmico e eficiência reprodutiva foram feitas com novilhas e fêmeas adultas de corte em projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Rossetto está planejando a continuidade de pesquisas nessa linha com machos em idade reprodutiva, orçamento de mudança.

Por Embrapa