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Mas você sabe o que é uma semente de qualidade e como o tratamento de sementes pode melhorar as características desejáveis para o agricultor?

A maioria das culturas agronômicas de grande importância como arroz, soja, milho e feijão, é propagada por sementes.

Portanto, o uso de sementes de qualidade é essencial para o sucesso da agricultura.

Neste artigo, você também aprenderá como essa prática pode ser realizada e as principais doenças e pragas que podem ser evitadas com sua utilização.

 

Tratamento de sementes: o que é e por que fazer?

 

4 aspectos da qualidade da semente

A qualidade da semente engloba quatro componentes ou atributos com importância mais ou menos equivalente: físicos, fisiológicos, genéticos e sanitários.

Em conjunto, esses atributos fazem com que sementes de qualidade apresentem alto poder germinativo associado a alto vigor.

Uma elevada qualidade física significa que as sementes têm estrutura íntegra e são uniformes quanto ao tamanho e forma, têm elevado peso volumétrico, por exemplo.

Essas características permitem maior uniformidade na distribuição das sementes durante a semeadura e maior disponibilidade de reservas para o estabelecimento da plântula.

Já a qualidade fisiológica engloba a viabilidade, representada pela germinação de um lote, e vigor, relacionado à tolerância ao estresse durante a germinação e emergência.

Por sua vez, um lote tem alta qualidade genética se as sementes são realmente da cultivar ou híbrido que se quer cultivar, sem contaminantes. A essa característica dá-se o nome de pureza varietal.

Por fim, temos a qualidade sanitária, que significa que a semente está livre de patógenos e sementes de plantas daninhas que podem prejudicar o cultivo.

 

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Objetivo do tratamento de sementes

O tratamento de sementes objetiva proteger a semente contra patógenos e pragas desde a semeadura à germinação.

Além disso, serve para descontaminá-la de patógenos, evitando introduzi-los em áreas livres. Uma vez que muitas doenças podem ser transmitidas por sementes.

Portanto, é uma prática que visa à qualidade sanitária da semente. Mas que também potencializa a genética da semente, contribuindo para o sucesso do plantio.

 

O que é e para que serve o tratamento de sementes?

O tratamento de sementes consiste em aplicar defensivos químicos e/ou biológicos às sementes para controlar fungos e pragas que atacam sementes, mudas e plantas.

Se feita adequadamente, essa prática protegerá a semente nas fases iniciais da lavoura, desde a semeadura até a emergência da plântula.

Atualmente, o tratamento de sementes pode englobar não apenas os defensivos, mas todas as tecnologias aplicadas à semente, como:

Após a realização do tratamento, as sementes são destinadas exclusivamente ao plantio e não podem ser usadas para alimentação humana ou animal.

 

Importância do tratamento de sementes

Como vimos, o Tratamento de Sementes melhora a qualidade sanitária protegendo contra pragas e doenças nos estágios iniciais da cultura, antes, durante e depois da geminação.

Sementes que poderiam ser ameaçadas por doenças, pragas ou até interferências climáticas, conseguem crescer mais fortes, com germinação mais uniforme e com melhor enraizamento.

Ao melhorar a qualidade sanitária, essa prática previne a entrada de pragas nas áreas de cultivo ao eliminar ou reduzir o inóculo presente na semente.

Além disso, tem grande importância no desenvolvimento de plantas vigorosas e sadias.

Consequentemente, o Tratamento de Sementes terá efeito sobre a produtividade.

 

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Como é feito o tratamento de sementes?

A qualidade das sementes é o objetivo maior e é preciso enfatizar que nem sempre o tratamento de sementes com defensivos é necessário!

Ele deve ser recomendado com base no teste de sanidade, um dos testes da Análise de Qualidade das Sementes.

O teste de sanidade fornece informações sobre a qualidade sanitária da semente destinada à semeadura.

Ele também pode esclarecer as causas da baixa germinação, comum em amostras com elevados índices de infecção

Se a semente está livre de patógenos e a área em que ela será semeada também, por que aplicar defensivos, aumentando o custo da semente?

A recomendação ideal é feita de acordo a realidade da área em que a semente será cultivada.

Outros componentes do tratamento de sementes, como inoculantes e micronutrientes, nesse caso, talvez já sejam suficientes para o sucesso da cultura nos estágios iniciais.

 

Componentes do tratamento de sementes

Os componentes do tratamento de sementes são os produtos e ingredientes encontrados na calda.

Podem incluir produtos para tratamento de semente (defensivos), corantes, polímeros, água, micronutrientes, inoculantes, revestimentos, reguladores de crescimento, agentes de proteção a herbicidas e outros produtos.

Os produtos destinados ao tratamento de sementes ou defensivos são geralmente fungicidas, inseticidas e nematicidas, mas pode-se incluir ainda bactericidas e outros produtos.

Os defensivos podem ser de contato, quando agem somente na superfície da planta ou da semente, ou sistêmico, quando absorvidos e translocados dentro da planta.

Veja os principais requisitos para um defensivo destinado ao tratamento das sementes são:

  • ser tóxico aos patógenos e às pragas-alvo
  • não ser fitotóxico
  • não ser acumulável no solo
  • ter alta persistência nas sementes
  • ter grande capacidade de aderência e cobertura às sementes (podem ser usados polímeros para promover a adesão e retenção dos ingredientes ativos às sementes)
  • deve ser compatível com outros produtos para tratamento de sementes
  • ser efetivo sob diferentes condições agroclimáticas
  • não deixar resíduos nocivos na planta
  • ser seguro para os operadores durante o manuseio e a semeadura
  • ser economicamente viável

 

Ação dos fungicidas utilizados no tratamento de sementes

A ação dos fungicidas usados no tratamento das sementes pode ser classificada como desinfectante, desinfestante, protetor e erradicante.

Desinfectante – atua no controle dos patógenos localizados dentro das sementes (endosperma e embrião) ou nos tecidos do pericarpo. Geralmente têm ação sistêmica, sendo absorvidos e difundidos dentro das sementes. Ex: thiabendazol

Desinfestante – atua no controle de patógenos localizados na superfície externa das sementes. Ex: captan, thiram, quintozene e tolyfluanid.

Protetor – protege as sementes e as plântulas contra o ataque dos fungos das sementes e do solo.

Erradicante – elimina o patógeno que está associado às sementes, quer seja fungo infectante ou infestante. Fungicidas sistêmicos podem atuar como desinfectantes e erradicantes.

 

2 tipos de tratamento de sementes

Atualmente, são possíveis duas formas de se fazer o tratamento de sementes:

 

Tratamento convencional, na fazenda (on farm)

  • Geralmente é feito na própria fazenda, logo antes da semeadura.
  • Realizado em tambores, betoneiras ou utilizando máquinas específicas para o tratamento de sementes.
  • Esse tipo de tratamento deve ser feito pelo responsável técnico (agrônomo) ou sob sua supervisão.

Os principais cuidados a serem tomados nesta modalidade são:

  • Verificar se o produto utilizado no procedimento seja registrado para as sementes da cultura que se pretende fazer o tratamento.
  • Escolher corretamente o produto químico de acordo com o objetivo do tratamento.
  • Verificar se o equipamento de aplicação esteja calibrado.
  • Seguir as instruções da bula do produto e das Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ).
  • Preferir os produtos que possuem baixo volume de calda e boa adesão à semente.
  • Não misturar produtos incompatíveis e preferir produtos que combinem, em uma só fórmula, mais de um tipo de defensivo.

As principais vantagens do tratamento convencional são:

  • custo relativamente menor ao TIS
  • recomendação de produtos personalizada de acordo com a necessidade (das sementes e da área de cultivo)

 

Tratamento Industrial de Sementes (TIS)

Pode-se dizer que é a escolha mais prática, uma vez que as sementes são compradas já prontas para a semeadura.

O TIS faz parte das etapas do beneficiamento das sementes em diversas empresas, geralmente realizado no pré-ensaque ou no momento da entrega ao produtor.

É um processo que consiste em aplicações automatizadas por meio de equipamentos de alta tecnologia. Normalmente realizado nas Unidades de Beneficiamento de Sementes (UBS).

Utiliza equipamentos especiais que combinam a aplicação de fungicidas, inseticidas, micronutrientes, nematicidas entre outros.

Para ser considerado TSI, é indispensável a utilização de polímeros para adesão dos produtos às sementes.

A EMBRAPA estima que cerca de 40% das sementes de soja no Brasil são tratadas neste sistema.

É importante ressaltar que o produtor também pode realizar o TSI.

A ABRASEM define TSI como:

“(…) o processo realizado pelo produtor de sementes, reembalador, beneficiador ou por empresa especializada que utiliza técnicas profissionais, produtos, máquinas e equipamentos específicos para o tratamento de sementes e que garante a taxa de aplicação recomendada pelo fabricante (dose e qualidade do recobrimento).  (…) realizado por profissionais especializados, sob normas de segurança e visando preservar a qualidade física e fisiológica das sementes, bem como assegurar a saúde dos operadores e a preservação do meio ambiente.

As principais vantagens do TSI em relação ao tratamento on farm são:

  • menor risco de intoxicação dos operadores
  • maior precisão no volume de calda utilizado para o tratamento das sementes.
  • melhor cobertura da semente com o produto químico
  • maior rendimento por hora

As principais desvantagens do TSI são:

  • maior custo de aquisição das sementes
  • utilização padronizada de produtos, às vezes desnecessários.

Essa desvantagem que pode ser corrigida se o produtor (ou seu responsável técnico) tiver liberdade de escolher com quais produtos sua semente deveria ser tratada.

 

Benefícios do tratamento de sementes

Independentemente se feito on farm ou industrialmente. Os benefícios do tratamento de sementes serão vistos do plantio à colheita:

  • Estabelecimento da população de plantas por controlar patógenos e pragas importantes transmitidos pelas sementes, diminuindo a chance de sua introdução em novas áreas.
  • Proteção do potencial genético da variedade que o produtor escolheu para plantar.
  • Estabelecimento do estande desejável da lavoura (número adequado de plantas para determinada área).
  • Pode ter influência positiva na fisiologia da planta (melhor enraizamento, germinação mais uniforme e maior resistência a nematoides);
  • É um investimento relativamente baixo que ajuda a melhorar a produtividade da lavoura.

 

Pragas e doenças controladas com o tratamento de sementes

O tratamento de sementes evita a transmissão e danos diretos causados por patógenos e pragas em sementes, raízes e plântulas na fase inicial das culturas. Já as sementes mais tratadas no Brasil são as de milho e de soja.

As principais pragas e doenças de soja, milho e algodão que são controladas com o tratamento de sementes são:

  • As lagartas Helicoverpa (Helicoverpa spp), Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), Lagarta-do-cartucho (Spodoperta frugiperda), Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), que se alimentam do colo da planta, logo após a germinação.
  • Os corós (Coleoptera: Scarabaeoidea) que vivem no solo e se alimentam exclusiva ou facultativamente de raízes, causando danos a diversas culturas. Entre as pragas-de-solo, os corós rizófagos têm se constituído em um dos grupos mais importantes em diversas culturas de alto valor econômico.
  • Nematoides
  • Fungos fitopatogênicos transmitidos por sementes como Phomopsis , Cercospora spp., Fusarium spp. e Colletotrichum spp.
  • Fungos de grãos armazenados como Penicillium e Aspergillus spp.
  • Patógenos presentes no solo como Rhizoctonia, Pythium spp. e Stenocarpella sp. podem causar danos na fase de muda, causar tombamento e redução do estande.

 

Tratamento de sementes de soja

Após a semeadura, as sementes podem encontrar condições desfavoráveis à germinação da semente e a emergência da plântula, que tornam o processo mais demorado.

Assim, a semente estará mais tempo exposta a patógenos presentes no solo (Rhizoctonia, Pythium) que podem deteriorar ou causar a morte da plântula.

Para patógenos transmitidos pela semente de soja, o controle mais eficaz é realizado com fungicidas do grupo dos benzimidazois. Isso é válido para Cercospora kikuchii, Fusarium pallidoroseum (=F. semitectum), Phomopsis spp. e Colletotrichum truncatum.

Para esses patógenos, os produtos mais indicados para tratamento de sementes são carbendazin, tiofanato metílico e thiabendazole. Esses produtos também são eficientes para o controle de  Sclerotinia sclerotiorum quando presente na semente, na forma de micélio interno, dormente.

Fungicidas de contato como Captan, Thiram e Tolylfluanid, que têm bom desempenho no campo quanto à emergência, não controlam, totalmente esses fungos, principalmente Phomopsis spp. e F. pallidoroseum nas sementes que apresentam índices maiores que 40% desses patógenos.

 

Plataforma Agropós

 

Tratamento de sementes de milho

A aplicação de produtos fitossanitários via sementes de milho é uma prática comum e estima-se que 85% das sementes no Brasil sejam tratadas.

As sementes de milho híbrido carregam um dos mais modernos pacotes tecnológicos da agricultura moderna e é comum o uso do TIS.

E a pesquisa tem se intensificado nos últimos anos para melhorar essa tecnologia. Isso porque os tratamentos químicos aplicados tendem, com o aumento das dosagens, a gerar efeitos latentes, desfavoráveis ao desempenho das sementes, intensificados com o prolongamento do período de armazenamento.

Os principais defensivos utilizados são fungicidas e inseticidas.

No Brasil, há vários produtos formulados disponíveis para o tratamento de sementes de milho.

Os princípios ativos e combinações registradas no Ministério da Agricultura para tratamento de sementes são os seguintes:

  • carbendazim (benzimidazol) + tiram (dimetilditiocarbamato)
  • piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
  • fipronil (pirazol) + piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
  • fluazinam (fenilpiridinilamina) + tiofanato-metílico (benzimidazol),
  • piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
  • ipconazol (triazol)
  • fipronil (pirazol) + piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
  • tiametoxam (neonicotinoide)
  • abamectina (avermectina)
  • ciantraniliprole (antranilamida)
  • carbossulfano (metilcarbamato de benzofuranila)
  • tiodicarbe (metilcarbamato de oxina)

 

Conclusão

Semente de alta qualidade em termos de pureza, genética, vigor e germinação é um dos insumos mais importantes para o sucesso do cultivo.

O tratamento de sementes é uma das práticas que pode assegurar estande adequado, plantas vigorosas, atraso no início de epidemias e aumento do rendimento.

Além disso, pode prevenir a entrada de pragas e patógenos veiculados pelas sementes em áreas livres.

Vimos que o tratamento de sementes pode ser feito tanto da forma convencional (on farm) quanto industrial (TIS).

De um jeito ou de outro, ele melhora a qualidade das sementes e traz muitos benefícios ao produtor, vistos desde a semeadura até a colheita.

Escrito por Debora Cerviere.

Pós-graduação Fitossanidade