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Pesquisadores de Rio Claro (SP) conseguiram bons resultados contra bactérias que atacam citros, maracujá e tomate.

Plantio de maracujá (Foto: Giselda Person)

Uma pesquisa da realizada na Unesp de Rio Claro (SP) comprovou que fungos coletados na Antártica podem combater doenças causadas por bactérias do gênero Xanthomonas na agricultura.

A pesquisa testou os fungos com sucesso para as bactérias Xanthomonas citri, Xanthomonas euvesicatoria e Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae que causam o cancro cítrico, mancha bacteriana no tomate e bacteriose no maracujá, respectivamente. Há ainda estudos para doenças da mandioca e cana-de-açúcar.

A professora Daiane Cristina Sass, da Unesp de Rio Claro, investiga a ação de fungos contra bactérias que atacam a agricultura. (Foto: Arquivo pessoal)

“Esses organismos se desenvolvem em ambientes inóspitos e extremos, com poucos nutrientes, grande irradiação solar UV, frio excessivo e nós acreditamos que eles poderiam produzir compostos diferentes do que já é habitual justamente por estar em ambiente diferente”, a a professora Daiane Cristina Sass, coordenadora do projeto que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Segundo a pesquisadora, alguns fungos foram eficientes para várias culturas, outros atuaram em apenas uma das bactérias testadas.

 

 

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Cancro cítrico

Cancro cítrico prejudicou pomar de laranjas em Matão (Foto: Thayna Cunha/ G1)

No caso do cancro cítrico, a equipe do departamento de Laboratório de Bioprodutos e Microbiologia testou 86 fungos que foram coletados no solo e no mar da Antártica entre 2013 e 2015. Desses, 29 deles tiveram ação comprovada contra Xanthomonas citri que causa a doença que atingiu 13% dos pomares de citros do estado de São Paulo, no ano passado.

A doença causa lesões nos frutos de laranja, limão e tangerina, prejudicando a sua aparência e as vendas no mercado in natura. Como não tem cura, os produtores utilizam pulverização de produtos à base de cobre para minimizar os seus efeitos.

“O principal método de combate ao cancro cítrico é a aplicação nos pomares de compostos de cobre. O lado negativo é que, mesmo em quantidades pequenas, com o uso prolongado o cobre pode se acumular nos frutos, no solo e nas águas, acabando por contaminar todo o meio ambiente. É por isso que buscamos novos compostos que sejam menos agressivos ao meio ambiente e menos prejudiciais ao ser humano”, afirma a professora Daiane Cristina Sass, coordenadora do projeto.

Alta eficiência

Grupo de pesquisa do Laboratório de Bioprodutos e Microbiologia. (Foto: Divulgação)

Em testes em laboratório, alguns extratos dos fungos chegaram a inibir em 98% a proliferação da bactéria. Agora, os pesquisadores querem descobrir os compostos que são responsáveis pela ação antibacteriana e assim deixá-los mais eficientes.

“No extrato temos vários compostos. Nós estamos isolando esses produtos, purificando para tirar o composto [responsável pelo controle da bactéria] do extrato e, provavelmente, ele terá uma atividade ainda maior”, afirmou Daiane.

De acordo com a pesquisadora, essa fase da pesquisa deve demorar um ano e meio, aproximadamente. Paralelamente, a equipe está realizando testes toxicológicos em células humanas. O mesmo também deverá ser feito para testar a toxidade dos fungos em insetos, como abelhas.

Os pesquisadores esperam patentear os compostos identificados e que eles sejam disponibilizados no mercado de defensivos agrícolas.

Fungos da Antártica

Fungos estavam em sedimentos retirados da Antártica durante as expedições do projeto Proantar. (Foto: Arquivo pessoal/ Lara Sette)

Os fungos testados fazem parte de um banco com mais de 1,5 mil fungos isolados de amostras de solo e de sedimentos marinhos coletados ao longo de quatro expedições do projeto Proantar.

Dos fungos estudados, 33 fungos foram isolados a partir de amostras coletadas em solo abaixo de madeira podre. Outros 53 vieram das águas da baía do Almirantado, na Ilha Rei George. Todos foram coletados pela equipe da professora Lara Durães Sette.

 

 

 

 

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Professora Lara Sette em coleta de sedimentos na Antártica. (Foto: Arquivo pessoal/ Lara Sette)

“A Antártica ainda é um ambiente que propicia a gente obter novas espécies de fungos ainda não conhecidos pela ciência e temos alguns grupos que a gente vê que são associados a ambientes marinhos e ambientes frios”, explicou a professora que trabalha com a prospecção de enzimas adaptadas ao frio.

Além da agricultura, as aplicações desses fungos de ambiente gelado estão sendo estudadas também na indústria alimentícia e degradação de poluentes ambientais.