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Informações objetivas sobre o conflito entre Árvore e Rede Elétrica

Informações objetivas sobre o conflito entre Árvore e Rede Elétrica

Foi-nos solicitado discorrer sobre experiências que têm dado certo nos trabalhos sobre arborização urbana, mormente nas questões que envolvem o conflito com as redes elétricas.

Temos desenvolvido vários trabalhos sobre esse assunto em diversas cidades, principalmente por intermédio do Centro Mineiro para Conservação da Natureza, o qual assessoramos na área de arborização e paisagismo. Assim, podemos citar trabalhos em Cataguases, João Monlevade, Ponte Nova, dentre muitas outras cidades.

Para ilustração nesse evento, entretanto, escolhemos o trabalho desenvolvido em Belo Horizonte que teve como objetivo específico o estudo econômico de podas e substituições de redes, por ter sido mais completo e mais científico. Assim, queremos deixar claro que os dados apresentados são relativos ao trabalho do Engenheiro Florestal Ednilson dos Santos em sua tese de doutoramento junto ao Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, sob orientação da Professora Rita de Cássia Gonçalves Borges e aconselhamento dos professores Márcio Lopes da Silva e Wantuelfer Gonçalves. O referido trabalho teve o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG e da CAPES.

O engenheiro Ednilson dos Santos ocupa atualmente a função de chefia da Administração Regional Centro-Sul (a ARCS é penas uma pequena parte de Belo Horizonte). Sua experiência, já há algum tempo em arborização urbana, permite-lhe inferências importantíssimas para solução de conflitos entre rede elétrica e arborização urbana. Assim, maiores detalhes podem ser conseguidos em contatos diretos com o autor na Prefeitura de Belo Horizonte.

INFORMAÇÕES

Grande parte do esforço despendido pelos profissionais de arborização urbana hoje em dia, em cidades onde a arborização já existe, está voltada para correções de erros antigos. Esses erros podem ter sido propositais em alguns casos, mas na maioria não o foi, já que nos primeiros plantios de árvores urbanas o homem não tinha, ainda, o conhecimento suficiente para evitar esses erros. Dentre eles, o que mais se sobressai é o conflito entre os serviços aéreos (redes elétricas, iluminação, placas de sinalização etc) e as árvores. Para correção desses erros ou mesmo para o estabelecimento de um plano de manejo e intervenções como um todo, a primeira necessidade do arboricultor é conhecer o seu patrimônio arbóreo. Esse conhecimento é feito com a busca de informações que permitirão a tomada de decisões. Essas informações podem ser buscadas de duas maneiras: por meio de um levantamento ou inventário total; por meio de um inventário parcial por amostragem.

Se medimos todas as árvores, sem exceção, estaremos diante de um levantamento ou inventário total. Quando todos os dados de todas as árvores são armazenados de forma a podermos recuperá-los a qualquer momento estaremos fazendo um cadastramento.

Se medimos apenas parte da população por meio de amostras significativas e inferimos os resultados para toda a população, estamos realizando um inventário parcial.

Seja qual for o processo utilizado, as conclusões a que chegamos sobre como se encontra o patrimônio arbóreo em termos qualitativos e quantitativos podem ser denominadas de diagnóstico da arborização urbana. Esse diagnóstico pode ter objetivos generalizados, mas pode também ser realizado com um objetivo bastante específico (1).

CUSTO DAS INFORMAÇÕES

Informações para diagnosticar as condições de uma arborização urbana têm custos operacionais consideráveis. Assim, o profissional responsável pelo levantamento deverá ser bastante objetivo, coletando apenas informações que possam contribuir no seu diagnóstico. Esse custo poderá ser controlado na escolha das variáveis a serem levantadas, no grau de detalhamento dessas variáveis e na forma de anotação desses dados. Assim, a planilha a ser preenchida deverá requerer o mínimo de escrita possível; as árvores deverão ter medidos apenas os parâmetros essenciais e da maneira mais objetiva possível; a equipe deverá ter treinamento para agilidade na coleta dessas informações (2).

Santos (3), realizando inventário na cidade de Belo Horizonte estabeleceu três métodos de levantamento com objetivo de avaliar seus custos operacionais: inventário por classes; diagnóstico superficial; inventário completo. No inventário por classes a equipe de trabalho foi composta de um anotador e dois medidores e as medidas horizontais, embora tenham sido determinadas com trena, tiveram, juntamente com estimação de medidas verticais, os valores distribuídos em classes.

No diagnóstico superficial, apenas um avaliador estimou a olho nu, sem qualquer instrumento de medição, todos os parâmetros e fez a anotação por classes, como no inventário por classes.

No inventário completo, com equipe igual à do inventário por classes, utilizou-se de trena e régua retrátil, sendo os dados anotados com seus valores exatos.

Como era de se esperar, os tempos gastos foram bastante variáveis, no campo e no escritório (Tabelas 1 e 2).

Fonte: Santos(2000a) op.cit.

 

Fonte: Santos(2000a) op.cit.

Acompanhando os dados relativos ao tempo gasto e levando-se em consideração a formação das  equipes e  dos equipamentos utilizados, os custos, logicamente, foram diferentes (Tabela 3).

Fonte: Santos(2000a) op.cit.

O trabalho apresenta, ainda, uma avaliação expedita no grau de precisão das medidas e, é claro, há diferenças consideráveis em favor dos métodos mais completos. Entretanto, a finalidade dessas medições deverá determinar o grau de precisão requerido e o custo associado que, juntos, determinarão a otimização de todo o processo.

OBJETIVOS DAS INFORMAÇÕES

Os motivos que levam os técnicos a inventariarem ou diagnosticarem a arborização urbana são vários e vão desde o simples conhecimento do parâmetro arbóreo municipal até a formulação de políticas municipais de meio ambiente e qualidade de vida. Entretanto, de permeio entre esses dois extremos existe a necessidade real de manejo desse patrimônio em função, principalmente, de ser ele um patrimônio vivo e, como tal, dinâmico.

Assim, os levantamentos periódicos das condições arbóreas é que determinam as intervenções de fertilização, de poda e de supressão, dentre outras.

Apenas para ilustrar o uso do inventário da arborização para um fim específico, recorremos novamente ao trabalho de Santos (4) que diagnosticou a situação da arborização da Região Administrativa Centro-Sul de Belo Horizonte com a finalidade de comparar, em termos econômicos, a substituição de redes e a poda, intervenção convencionalmente realizada para administrar os conflitos entre a rede e a árvore.

O trabalho de Santos começou por determinar os tipos de rede existentes, ou não, na regional, uma vez que nem todo tipo de rede conflita com a árvore e nem toda árvore conflita com o tipo de rede. Assim, considerando as redes de baixa e média tensão e as diferentes especificações em que elas se encontram (nua, protegida e isolada), estabeleceu-se 16 possibilidades conforme a tabela 4 (5).

Fonte: Santos(2000b) op.cit.

Associados aos diferentes tipos de redes temos os diferentes tipos de árvores para os quais pode haver, ou não, a necessidade de poda. Assim, árvores de pequeno porte sob rede, mesmo que nua, não necessitam poda e, árvores grandes, quando sob redes isoladas ou protegidas não requerem podas ou, se as requerem, estas são em menor intensidade. Diferentes situações então podem ser determinadas e graus variáveis de poda podem ser requeridos. Assim, a tabela 5 ilustra a tipologia de poda adotada pela ARCS para pagamento de serviços de terceiros, relacionando as diferentes intensidades de poda com o porte das árvores.

Fonte: Santos(2000b) op.cit.

O inventário realizado apontou a existência de 55.041 árvores na ARCS, sendo 87% desse total plantadas ao longo de passeios, 8,39% em canteiros separadores de pistas e 4,61% em praças.

Deixando de lado as informações botânicas e de qualidade, cientificamente determinadas no trabalho, ressaltamos que a avaliação de necessidade de podas mostrou que os serviços mais requisitados foram a poda de levantamento de copa (32,9%), de conformação (19,7%), de limpeza (18,4%) e para liberação da iluminação pública (13,2%). Observando-se o relacionamento das árvores com a rede elétrica, chegou-se à conclusão de que apenas 25,42%, ou cerca de 14 mil, estão sob algum tipo de rede nua e têm potencial para atingirem alturas capazes de gerar conflito com a rede.

De maneira resumida, a tabela 6 mostra os parâmetros e custos relacionados à poda da arborização urbana, praticados pela ARCS, considerados os valores de mercado para o período de julho a outubro de 1999. Ressalta-se, entretanto, que a ARCS, em sua última licitação chegou a pagar R$ 46,33 por poda.

Fonte: Santos(2000b) op.cit.

Se, no entanto, o conflito pode ser resolvido intervindo-se na árvore, o mesmo pode ser feito atuando-se na rede. Os custos estimados apresentados a seguir (Tabela 7) foram levantados junto à Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, para  eliminar o uso de qualquer tipo de rede nua (6).

* 1Km = 29 postes. ** Considera a troca de um transformador. Fonte: Santos(2000b) op.cit.

Considerando-se então que apenas 14 mil das 55.041 árvores inventariadas interferem na rede de distribuição, o total de rede a ser substituída para que a necessidade de poda chegue a um nível próximo de zero é de 85,73 Km de média tensão, 2194 Km de baixa tensão e 32,45 Km de média/baixa tensão. Os custos estimados para essa substituição ficaram em torno de R$ 4.712.000,00, considerados os valores unitários, ou de R$ 3.770.000,00 se toda a substituição fosse executada de uma só vez. Isso equivale à execução da poda de todas as 14 mil árvores por um período de 7,3 anos, se executadas pela ARCS uma vez ao ano, ou de 8,4 anos, se considerado o valor pago pela CEMIG para a execução de duas podas por ano.

Do ponto de vista financeiro, a substituição gradativa da rede conforme a necessidade de manutenção é a melhor alternativa. Do ponto de vista ambiental, entretanto, esse processo deve ser acelerado.

 

Leia também:
-> Arborização e Áreas Verdes Urbanas: entenda como funcionam as análises através de índices
-> Paisagismo no Brasil: Habilidades e Habilitação

 

CONCLUSÕES

O conhecimento do patrimônio arbóreo de uma cidade seja por meio de um levantamento, de um inventário parcial ou de um diagnóstico simples é de suma importância para a tomada de decisões técnicas e políticas que influenciarão em intervenções ambientais e na qualidade de vida das pessoas. Esse trabalho tem de ser desenvolvido por equipes competentes que possam aperfeiçoar o processo tanto em termos de custo como em termos técnicos. A determinação dos parâmetros, da metodologia e da equipe pode influenciar nos resultados e esses poderão apontar as soluções para os problemas específicos. Assim, a escolha entre um levantamento, um inventário ou um diagnóstico poderá determinar a qualidade e o custo finais do processo.

REFERÊNCIAS

(1) Para maiores informações sobre tipos de inventário e diagnóstico de arborização pode-se consultar a monografia de Chaves (1996).
(2) Para informações sobre formação de equipes consultar o trabalho de Takahashi (1994).
(3) Trabalho defendido como exigência de qualificação para doutoramento.
(4) Trabalho desenvolvido como tese de doutoramento no Departamento de Engenharia Florestal da Univesidade Federal de Viçosa.
(5) Para maiores detalhes sobre os diferentes tipos de rede recomendamos o trabalho da CEMIG (s/d).
(6) Para maiores detalhes pode ser consultado o trabalho da CEMIG (s/d) op.cit.

 

BIBLIOGRAFIA

1 – CHAVES, P. C. Inventário de arborização urbana. Viçosa: DEF/UFV. 1996. 39p. (Monografia de graduação).

2 – TAKAHASHI, L. Y. Arborização urbana: inventário. In.: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO  URBANA, 2. 1994. São Luis. Anais… São Luis: SBAU. 1994. 193-198.

3 – SANTOS, E. dos Avaliação comparativa entre três métodos de inventário qualitativo da arborização urbana viária. Viçosa: UFV, 2000a (Exame de qualificação para doutoramento).

4 – SANTOS, E. dos Avaliação quali-quantitativa da arborização e comparação econômica entre a poda e a substituição da rede de distribuição de energia elétrica da Região Administrativa Centro-Sul de Belo Horizonte – MG. Viçosa: UFV, 2000b. (Tese de doutoramento).

5 – CEMIG Poda de árvores e arborização urbana: diretrizes para a adequação ambiental. Belo Horizonte: CEMIG, s/d. (não publicado).

Este trabalho foi apresentado em agosto de 2000 a pedido da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e da CETESB no seminário “OS Aspectos Relativos a Sistemas de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica”, e foi publicado em Urbana Paisagem: palestras e conferências: 2000-2002, em Edição do Autor em 2003.