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Pic-a-wheat field: aplicativo de monitoramento da brusone no mundo – Imagem: Divulgação/reprodução da Embrapa

Projeto internacional coordenado pela Universidade do Estado do Kansas foi apresentado na 12ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale

A brusone é uma das principais doenças de impacto econômico no trigo. O agente causal é o fungo da Magnaporthe oryzae que, quando ataca a ráquis da espiga, resulta em grãos deformados e com baixo peso específico, o que implica em redução no rendimento das culturas.

Até pouco tempo, os relatos de ocorrência da brusone no trigo estavam restritos a eventuais epidemias em áreas tropicais bem definidas no Brasil, Bolívia e Paraguai. Entretanto, em 2016 a doença foi registrada em lavouras de trigo em Bangladesh, no Sul da Ásia, continente com o maior consumo mundial de cereais, chamando a atenção da ameaça global que a brusone representa. Vale lembrar que a maioria das variedade de trigo em cultivo no mundo são suscetíveis à brusone, e os fungicidas disponíveis são ineficientes quando a intensidade da doença é elevada.

Apesar de, ainda, não representar risco para os países produtores de trigo no hemisfério norte (o clima não favorece a sobrevivência do fungo causador da brusone nas condições atuais, sem considerar mudanças climáticas e possíveis mutações do fungo), os principais centros de pesquisa com cereais estão alertas à disseminação da doença no mundo, o que pode comprometer a segurança alimentar, principalmente nos países pobres da Ásia e África.
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Nos últimos cinco anos, um grupo de pesquisa financiado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) investiu 5 milhões de dólares em estudos para controle da brusone no trigo e no arroz. Um dos mais importantes resultados do trabalho, coordenado pela pesquisadora Barbara Valent, da Universidade do Estado do Kansas (KSU), foi a identificação do segmento de DNA chamado de 2NS como fator genético responsável pela resistência à brusone no trigo. Um avanço na pesquisa mundial que conduz para uma nova fase de trabalhos no projeto que está em construção, contando com o expertise de pesquisadores do Brasil, Bolívia, Paraguai, México e Bangladesh. O projeto tem como objetivos gerar novas soluções em monitoramento e biotecnologia para combater a brusone, com ações que buscam desenvolver germoplasma resistente, criar sistemas de alerta de epidemias em tempo real e difundir estratégias de manejo no uso de fungicidas para controle da doença.

O pesquisador da Embrapa Trigo João Leodato Nunes Maciel trabalhou no grupo da KSU, em Kansas, durante o ano de 2016. Ele destaca o desafio de controlar a brusone, devido ao grande número de hospedeiros e a grande capacidade de adaptação do fungo: “O fungo causador da brusone pode atacar mais de 50 espécies de gramíneas, além de sobreviver em restos culturais, sementes e plantas voluntárias”, explica o pesquisador, destacando que o fungo também pode ser disseminado pelo vento, aumentando a área de abrangência das epidemias. “Difícil esclarecer a chegada da brusone na Ásia, já que o deslocamento da América pode ter sido causado por uma série de fatores, como a exportação de grãos e sementes contaminados, amostras de plantas hospedeiras ou mesmo o vento”, conclui Maciel.

De acordo com a pesquisadora da KSU, Barbara Valent, a expectativa é que a aprovação de um novo projeto possa contemplar fatores globais, como riscos e conhecimentos em cada ambiente de cultivo: “Junto com colaboradores internacionais, buscaremos entender a variabilidade dos patógenos, os principais hospedeiros e os aspectos meteorológicos, temporais e espaciais das epidemias de brusone”.

Iniciativa brasileira

Um dos resultados do projeto de combate à brusone do trigo tem como base o trabalho desenvolvido por pesquisadores brasileiros e será apresentado pela primeira vez na Reunião. A parceria da Universidade de Passo Fundo, Embrapa Trigo e Universidade do Kansas resultou no aplicativo “Pic-a-Wheat Field” (“fotografe um campo de trigo”, na livre tradução), desenvolvido com o objetivo de incentivar a vigilância das lavouras e formar um banco de dados com o registro das epidemias no mundo.

O “Pic-a-Wheat-Field” pode ser acessado pelo telefone celular, basta baixar o aplicativo no smartphone (sistema iOS ou Android) e cadastrar um usuário. A partir do login e senha gerados, o portal http://picawheatfield.org poderá ser acessado de qualquer dispositivo, nos idiomas inglês, português e espanhol.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo José Maurício Fernandes, o sistema foi desenvolvido visando a interação com o produtor ou assistência técnica no abastecimento dos dados. Segundo ele, basta o usuário ligar o GPS do celular antes de fotografar a lavoura e/ou espigas com sintomas de brusone. As coordenadas geográficas (Latitude e Longitude) serão extraídas das fotos submetidas e identificadas no mapa para uma localização no globo. Um algoritmo de banco de dados verifica a existência de uma estação meteorológica no raio de 100 km do local da foto e, caso tenha sido informado um campo de trigo com brusone, um conjunto de regras avalia a adequação do clima para ocorrência da doença. “Os dados coletados no sistema deverão servir para o ajuste fino dos modelos de simulação da ocorrência da brusone no trigo baseados em dados meteorológicos”, avalia o pesquisador. Além disso, os usuários do aplicativo podem visualizar o mapa para ver a distribuição de campos de trigo com ocorrência de brusone (vide figura): “o mapa de distribuição da brusone facilitará a adoção de medidas de controle na eminência de surgimento de uma epidemia ou mesmo na total ausência da doença”, explica Fernandes.

Para a pesquisa, o registro da ocorrência da brusone vai abastecer o banco de dados coletados ao longo dos anos, permitindo avaliar tanto a dispersão da doença quanto a agressividade do fungo a cada safra de trigo. Para o usuário, a vantagem será a interação do “Pic-a-Wheat Field” com sistemas de vigilância (como o Sisalert) que poderão alertar o usuário através de mensagens sobre o risco de epidemias nos próximos sete dias, orientando o melhor momento de aplicação dos fungicidas para reduzir danos na lavoura. “No momento, é possível somente cadastrar o usuário e enviar fotos para localizar a incidência da brusone, mas o aplicativo deverá estar completo até o final deste ano”, conclui José Maurício Fernandes.

Fonte: Embrapa | Joseani M. Antunes